terça-feira, 31 de agosto de 2021

Prevenção à Condutas Antissociais na Primeira Infância

É sabido o quanto acontecimentos na infância influenciam na caracterização de nossa personalidade. Fatos traumáticos, violência familiar, bullying escolar, entre outros, acabam por desencadear comportamentos disruptivos. Esses comportamentos que por muitas vezes passam a ser punidos e vem junto um discurso moralista por parte dos adultos ao seu entorno, mas na realidade não passam de um grito de socorro! É um sinalizador de que há algo falho emocionalmente nessa criança e que ela precisa de um ambiente suficientemente bom pra lhe dar suporte.

Como trabalho com dependência química, por inúmeras vezes as escolas, empresas e outras instituições me chamam para fazer prevenção ao uso de drogas, mas isso não é possível. Não existe palestra no mundo que vá fazer alguém não vir a desenvolver a desvinça e a dependência química. A ação que funciona seria habilitar as famílias, em especial as mães, a fornecerem um ambiente saudável para o bebê desde o seu nascimento.

Há mães que, por algum motivo, não cumprem satisfatoriamente as funções de uma mãe suficientemente boa. Realizam uma maternagem deficiente, que pode conduzir ao surgimento de um sintoma ao longo do processo de amadurecimento. Embora a preocupação materna primária seja um estado psicológico naturalmente desenvolvido com a vinda de um bebê, existem mulheres que resistem em assumir esse papel. Dedicada a outras atividades, algumas mulheres não conseguem e não permitem uma identificação, uma ligação com seu bebê. Muitas irão realizar uma maternagem rígida e guiada por regras racionalmente estabe­lecidas. Vindas de livros sobre educação, algum site de conselhos ou mesmo o que uma amiga lhe ensinou. Assim, possivelmente irá conseguir prover para o seu bebê alguns cuidados básicos, mas essa mãe não será capaz de desenvolver uma comunicação profunda e significativa com seu filho. O bebê não terá suas demandas identificadas e atendidas, pois a mãe que age mecanicamente, não pensa nas necessidades do bebê, mas naquilo que precisa ser feito, como um protocolo determinado por ela mesma, que envolve basicamente alimentação e higiene.

Certamente haverá déficit no amadurecimento quando existir falhas no processo de desenvolvimento da criança. O déficit está vinculado diretamente ao momento em que as falhas ocorreram na linha de evolução, que parte do estágio de depen­dência absoluta, passando pela dependência relativa e rumo à independência relativa.

Alguns sintomas podem estar relacionados com falhas no holding (que é o cuidado), no handling (que é o manejo, a manipulação) e também na apresentação de objetos. As falhas em estágios primitivos do desenvolvimento contribuem para patologias graves. Nos estágios posteriores as patologias serão cada vez menos graves, em função do amadurecimento do ego já acontecido.

No estágio de dependência absoluta, nos primeiros meses de vida, uma mãe e um ambiente suficientemente bom previne o desenvolvimento de uma deficiência mental não-orgânica, do autismo ou da esquizofrenia.

No estágio de dependência relativa, que ocorre a partir de uns 6 meses de vida, ou quando o bebe for capaz de adotar um objeto transicional (aquele paninho ou brinquedo estimação), existe ali uma pessoa que pode ser traumatizada e, portanto, uma falha neste período pode acarretar tendências antissociais e distúrbios afetivos.

Já a independência relativa, na qual a criança tende a apresentar a capacidade de cuidar de si mesma a falha ambiental não será necessariamente prejudicial. Devido ao nível de amadurecimento do ego já estruturado.

Um ambiente propício para a maturação e desenvolvimento de uma pessoa emocionalmente saudável deve conter alguns aspectos que são relevantes para apresentar uma condição de desenvolvimento. A principal característica desse ambiente é uma funcionalidade, ou seja, na estruturação é uma família que auxilia seus membros a serem mais funcionais – são pessoas que aprendem, crescem, são pessoas com responsabilidade e autonomia.

Pais ou cuidadores suficientemente bons são aqueles que cumprem suas funções básicas de criação e desenvolvimento. São de uma forma firme e flexível, adaptada às circunstâncias e aos fatos de cada momento e que ajuda a todos a estarem sempre num processo de tomada de consciência, de aprendizagem e de crescimento.

Uma forma de avaliar o ambiente familiar é verificar se estão desenvolvendo no seu dia a dia os aprendizados que são necessários para a criação de pessoas funcionais e cada vez mais rumo a independência e autonomia.

Algumas dessas aprendizagens são ligadas a segurança oferecida através de limites claros. Afinal, todos os membros da família precisam de limites, os bebês e crianças pequenas ainda mais. Os limites começam a ser definidos logo no nascimento, onde se oferece o colo, o seio e o espaço que o bebe irá utilizar. E seguem por toda a vida familiar, com as tarefas, os horários, rotinas, valores familiares. Isso implica em direitos e deveres, regras, orientação, contratos e muitos outros itens que darão à criança a certeza de ser amada, cuidada e orientada. A falta de limites claros gera na criança (e nos adultos também) a sensação de estar à deriva, de não ter com quem contar, de insegurança e desamor.

Só quando há segurança no ambiente que o bebê pode utilizar seus impulsos, inclusive os de agressi­vidade, de forma positiva, sem criar dificuldades para o ambiente e para si. A agressividade, principalmente aquela, expressa pelo bebê em seu primeiro ano de vida e que coexiste com o amor, deve ser suportada pelo ambiente. O ambiente neces­sariamente precisa manter-se estável aos ataques sofridos.

O desenvolvimento saudável da criança necessita de um sentimento de confiança, que seja constante e capaz de recuperar-se sempre após um ataque, pois a confiança no ambiente será testada pela criança sempre que ela achar necessário. Somente com a permanência do ambiente confiável e seguro é que o bebê desenvolverá a capacidade de preocupar­-se quanto aos seus atos, redirecionar seus impulsos agressivos a impulsos construtivos.

A destrutividade pertence a todos os sujeitos, quando se perde o direito de exercê-la e de dar conta dela, paga-se um preço por isso. Perde-se a capacidade de assumir respon­sabilidades e a saúde psíquica está atrelada a esta capacidade.

Donald Winnicott, é enfático ao afirmar que a expressão da agressividade não deveria ser negada, pois só assim o ser humano poderá aproveitá-la para reparar e restituir suas ações agressivas por meio do desenvolvimento de recursos internos, de um bom ambiente interno. Para o amadu­recimento do ser é fundamental o desejo incons­ciente de querer reparar, corrigir, drenar os instintos, reconhecer a crueldade que existe em si. Este é o único caminho para sublimar estes impulsos por meio de atividades construtivas.

Quando a criança se comporta de modo antis­social, não significa necessariamente que está doente, o comportamento antissocial, na maioria das vezes, é um pedido de um controle, que precisa vir do exterior e realizado por pessoas fortes, amorosas e confiantes, que possibilitem um envolvimento afetivo. Estando sob o controle exterior a criança antissocial poderá ficar bem. Ela busca por este controle e quando não o tem, em algum momento, se sentirá ameaçada pela loucura. Irá transgredindo contra a sua família ou sociedade com o objetivo de restituir o controle advindo do ambiente externo. Esta busca está permeada por um sentimento de esperança. Esperança de encontrar no ambiente externo aquilo que falhou no estágio da dependência relativa.

Talvez, alguns devem estar se perguntando: como se faz para transmitir um ambiente seguro para um sujeito na primeira infância? Não tem uma formula mágica, mas existe alguns itens que podem ser exercitados pelos pais que desejam prevenir a instalação de comportamentos antissociais em seus filhos e consequentemente o desenvolvimento da drogadição.

O ideal seria que o ambiente, respondesse aos atos antissociais da criança os reconhecendo, nomeando e os ajudando a administrar. Desse modo o momento de esperança pode ser correspondido. O ambiente que não responde dessa forma deixa a criança sem esperança e é novamente no ato antissocial que ela vai reencontrá-la.

É de extrema importância, em relação à tendência antissocial, que atitudes sejam tomadas no princípio do seu desenvolvimento, sejam elas no âmbito familiar ou da clínica. Torna-se cada vez mais difícil alcançar a cura para a desviança deixando o tempo passar. A criança pode torna-se cada vez mais difícil. É importante evitar que a defesa antissocial organizada se instale na conduta do sujeito, pois isso resultaria na delinquência. Na delin­quência estão acrescidos os ganhos secundários dos atos e isto torna ainda mais difícil a possibilidade de intervenções que levem à cura. Além disso, as reações sociais, frente aos atos delinquentes, intensificam-se tornando a situação ainda mais difícil.

Para que os casos de tendência antissocial não evoluam para a delinquência é fundamental uma atitude vinculada a cuidados básicos com o objetivo de prevenir a manifestação da própria tendência antissocial, uma vez que pais e responsáveis sejam orientados e informados sobre a relevância das suas funções e papéis para o desenvolvimento saudável de seus filhos. Ele precisam entender que diante da não realização de ações ambientais suficientes para o amadureci­mento emocional, um comportamento antissocial pode se apresentar como reação à deprivação.

Assim, os limites claros, como citei anteriormente, são tão importantes quanto as trocas afetivas, ou seja, saber conectar com seus sentimentos e sensações, saber expressá-los, saber ser continente do afeto e dos sentimentos dos outros. Isso tanto dos sentimentos ditos positivos (amor, carinho, aconchego, cuidado) como também dos chamados negativos (raiva, medo, mágoa, tristeza). Todos os sentimentos devem ser validados e ajudar as crianças e expressa-los e administrá-los.

É relevante também nesse processo que o ambiente suporte no desenvolvimento da auto estima, que consiste na certeza de que ele tem a capacidade no seu fazer. É um processo de descoberta e de treinamento de suas competências. É necessário aprender a lidar com as diferenças – de opiniões, de características, de habilidades – e principalmente com a valorização de cada um, mesmo sendo diferente. É aqui que se aprende a ser capaz de lidar com solidão, suportar a rejeição e os obstáculos que a vida irá impor. A auto estima é necessária como um suporte para as futuras frustrações.

O ambiente precisa também permitir o desenvolvimento da Autonomia. Que é simplesmente adequar o que cada um pode fazer sozinho, o que precisa de supervisão ou o que a criança não tem ainda idade, habilidade ou competência para fazê-lo. Importante destacar o ‘ainda’, pois em um processo evolutivo, ele chegará a se desenvolver para tal atividade. E um adulto jamais deve fazer por uma criança aquilo que ela dá conta de fazer sozinha. Se isso acontecer, estará aleijando seu desenvolvimento motor e emocional. É preciso permitir que faça e que explore seus limites. As tarefas devem ser simples num primeiro momento, mas nos sinais de  responsabilidade deve ser ampliado esse limite. O que irá oportunizar o processo de independência.

Ninguém no mundo nasce sabendo oferecer um ambiente saudável para seus filhos, mas é preciso maturação e suporte emocional para que possamos através da conexão afetiva nos ligarmos ao instinto e assim disponibilizar desenvolvimento para que as crianças caminhem rumo a independência.

 

Micheli Krayevski Eckel - Psicóloga




 

 

terça-feira, 6 de julho de 2021

Abandono Paterno: Consequências Emocionais e Estratégias de Enfrentamento

 

O ambiente em que a criança cresce tem papel fundamental no amadurecimento emocional e psíquico, e daí vem a importância dos adultos estabelecerem relações maternas e paternas saudáveis. A função materna é importante desde a gestação, as iniciais interações da mãe com o bebê, que oferece as primeiras experiências de prazer, satisfação e incômodo também. Assim como a função paterna, que funciona como um corte, permitindo a separação do conjunto mãe e bebê, para permitir que a criança consiga se constituir como um sujeito. Sendo assim: como a ausência da função paterna afeta a construção do psiquismo infantil?

O abandono paterno pode causar marcas psicológicas com consequências emocionais, sexuais e que ameaçam o desenvolvimento físico, psicológico e emocional considerado normal para uma criança saudável.

As pessoas que sofreram o abandono paterno, com frequência, podem apresentam algumas dessas consequências na idade adulta:

- Baixa inteligência emocional: Isto é, se estressam com facilidade, são pouco assertivos, tem dificuldade para estabelecer limites e ser empáticos; possuem vocabulário emocional limitado, ou seja, não sabem identificar e dar nome as suas emoções; são  mais  predispostos à crises límbicas (emoções à flor da pele).

- Dificuldade de adaptação: tem dificuldade para se adaptar às mudanças que surgem em sua vida (mudanças de emprego, de casa, de cidade), sofrendo muito e de forma prolongada quando estas situações aparecem. As mudanças geralmente provocam muita ansiedade.

- Apego a objetos: são propensos a ter dificuldade para se desfazer de objetos materiais (roupas, livros, documentos...). Geralmente estes objetos representam o sofrimento do abandono. Sofrem muita ansiedade quando precisam se separar, mesmo que temporariamente, do algum objeto.

- Vulnerabilidade a dependência: são pessoas com muita susceptibilidade a construir relações de dependência, seja com o consumo de substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) ou ainda, dependência do trabalho, de sexo, pornografia, jogos, tecnologia. Também estabelece relação de dependência com pessoas, principalmente em relacionamentos amorosos, ou à pessoas que lhes forneçam um pouco de atenção, ou qualquer pessoa que represente sua figura paterna ausente, namorados e amigos.

- Passividade nos relacionamentos: São pessoas que frequentemente se mostram muito complacentes com todos, incluindo as pessoas que não conhece. Ignoram ou deixam de lado suas prioridades ou interesses para poder agradar aos outros; as pessoas próximas as descrevem como pessoas muito boas, que escutam e ajudam aos outros sem interesses próprios. Em relacionamentos amorosos é uma pessoa permissiva e costuma ceder as vontades do companheiro (a) e ser explorada. É possível que este comportamento seja uma tentativa obsessiva de fazer com que nenhuma pessoa as abandone ou perca o interesse por elas. Comumente estas pessoas tornam-se especialistas em relações que as machucam, manifestando comportamentos que permitem prolongar e permanecer em relacionamentos destrutivos.

- Mal-estar psicológico: Frequentemente se sente vazio ou sem um propósito de vida. Como se não tivesse um sentido, uma sensação melancólica.

- Vulnerabilidade à psicopatologia: apresentam maior probabilidade de ser diagnosticados com alguma patologia mental do que uma pessoa que não sofreu abandono paterno. Como por exemplo: transtornos de ansiedade (crises ansiosas, insônia, transtornos alimentares...), doenças psicossomáticas, estresse ou transtornos de personalidade.

 

Mesmo que este abandono tenha acontecido há muitos anos atrás (na infância), ele continua repercutindo em sua qualidade de vida. As relações que a pessoa abandonada mantém podem apresentar alguns dos seguintes elementos:

- Relação com pessoas que a anulam constantemente, ou seja, que parecem nunca os escutar;

- Relação com companheiros ou amigos com dependência química;

- Relação com companheiros que maltratam física e emocionalmente;

- Relação com companheiros que cometem infidelidade, ou que a  submetem a ser “a outra” acreditando em promessas que nunca serão cumpridas;

- Relação com companheiros que as submetem a um constante temor de que irão embora e a abandonarão;

- Frequentemente são pessoas muito possessivas;

- Geralmente têm medo de perder alguma coisa;

 

Dentro do processo de psicoterapia, tratamento melhor indicado para aprender a superar o abandono paterno, existem alguns aspectos importantes para elaborar essa dor:

1- Relatar os momentos que lembrar com seu pai, ou as histórias que já ouviu sobre ele. No ambiente de privacidade e escuta ativa da psicoterapia, expressar essas lembranças, os pensamentos que vem com o relato. Importante dar atenção aos sentimentos que surgem, se houver vontade de chorar, chore!

2- Depois de se permitir expressar suas emoções e dar luz às lembranças, que costumam vir surgindo conforme vai aprofundando os relatos, é hora de compreende-los para se humanizar e humanizar a figura paterna que foi por vezes desqualificada. Se você compreende que tem emoções e pode dar nome a cada uma das sensações corporais que elas geram, você começará a ter empatia. Aceitar que uma perda pode provocar tanta dor, evitará que você continue minimizando ou extrapolando com todas as outras pessoas ou situações da sua vida presente.

3- Procure se colocar no lugar dele, exercite a empatia. Provavelmente, culpamos o pai ausente por todos estes anos de abandono. Então procure as possíveis razões por esse abandono. Por exemplo, sabemos que nosso pai pode ter experimentado alguma emoção de medo de não saber ou não poder ser responsável desta mudança em sua vida (ter filhos), sendo essa a causa do afastamento. Obviamente, este fato não justifica um abandono ou qualquer atitude de um pai, mas permite que assim compreendamos o mundo afetivo que vivemos e a assim aceitar os erros dos outros e os nossos. Se o motivo do abandono foi a morte, muito menos é possível culpabiliza-lo, somente compreender emocionalmente que esse abandono afetivo não foi programado, nem mesmo uma escolha.

4- Não procure esquecer, mas conviver com isso. Lembre-se que não estou sugerindo superar a perda, mas conviver com ela. É possível superar a perda de um celular, até mesmo de nosso joguinho favorito, mas superar a perda de um pai é impossível. Este ponto ressalta esta tendência a nos convencermos de que a perda de nosso pai não vai importar, e isto é construir sobre areia. É falso acreditar que algo com tamanha carga emocional pode chegar a não nos incomodar nenhum pouco.

5- Aprenda a perdoar. Seguir a vida em frente depois do abandono de um pai requer perdão e não é algo simples de alcançar. Se o ambiente constantemente mostra o lado ruim do seu pai, se você observa a sua mãe ou irmãos sofrendo muito, certamente acabará absorvendo essa dor. Aprender a perdoar requer amadurecimento emocional, atingir um estado adulto. Auxilia muito nesse processo a espiritualidade. Com fé, ir treinando gradativamente um perdão verdadeiro.

6- Tomar consciência. Ser consciente de todos estes pontos representa um grande avanço, pois conseguiremos identificar a dor dos outros e a nossa; as emoções dos outros e as nossas.

 

Aprender a honrar a vida daqueles que nos geraram, nos amadurece e nos permite acessar nossos próprios sentimentos de maneira madura, consciente e consistente. Essa jornada vale a pena!

 

-> Se você que está lendo esse texto é o terapeuta que está auxiliando seu paciente a lidar com essa dor, o ajude a seguir os passos acima com paciência. Lembre-se sempre que é um processo, um caminho a ser seguido.

 

terça-feira, 22 de junho de 2021

Conselhos para a Micheli jovem:

Logo irei completar 35 anos. Se eu pudesse encontrar comigo mesma a uns 15 ou 20 anos atrás, hoje me vejo apta a me dar alguns conselhos:

Micheli jovem,

Na vida há problemas que se resolvem conversando e problemas que se resolvem parando de conversar. Leva-se anos para separar uma situação da outra. Pratique. Boa parte de sua qualidade de vida dependerá desse discernimento.

Sempre que tiver oportunidade, coma cachorro-quente de rua às 5h da manhã. Num futuro próximo, se manter acordada até meia noite será um feito reservado, com dificuldade, para os dias 31 de dezembro. Salsicha te dará azia e você irá ficar preocupada o quanto esse alimento é cancerígeno. E pão depois das dez... ixxxiiii engorda! 

Sua vergonha não faz sentido. Em 5 anos você não lembrará desses cujos julgamentos você teme.

Cobre pelo seu trabalho. Sem pedir desculpas, sem dar explicações dos motivos. Você merece ser reconhecida financeiramente pelo que faz.

Não compre por impulso ou para agradar os outros. Organize o seu dinheiro. 

Não gaste o que não é seu. O errado é errado, não importa o quanto você tente justificar.

Não fique em casa! Os passeios, acampamentos, as viagens, serão as melhores lembranças que você terá de um tempo que passará rápido. 

Mantenha por perto aqueles que te fazem rir, que você confia e que a conversa flui bem. Alguns deles se tornarão amigos que você levará para a vida. 

Lembre-se sempre do ensinamento do teu pai: fique no grupo dos inteligentes. Você se assemelha com quem você anda.

Teu pai te amou, ele não te abandonou.

Tua mãe te ama. Ela não te deve nada.

Honre esse amor.

Cuide de suas irmãs e diga a elas você as ama. No futuro, você sentirá falta de ter elas por perto todos os dias.

Assista menos TV. Se dedique mais à leitura.

Não coce seus olhos!

Mesmo com preguiça, se dedique a alguma atividade física. Quanto mais você demorar para começar, mais difícil ficará.

Não faça tatuagens sem pensar por no mínimo um ano no desenho e no local. Procure espaços no corpo com menor chance de flacidez. Lembre-se sempre das futuras gestações.

Compre a calça que serve e que você se sente bem. Não use cintura baixa, fica feio e deforma teu corpo.

Não existe solução para quem não te quer. Sofra, chore, mas não se demore.

Não tenha medo de expressar o que você sente, nem de ser quem você é.

Ninguém é melhor do que você. Perceba quem você é, teus potenciais, tua beleza. Cultive tua auto estima.

Cuidado com quem começa uma conversa pedindo desculpas e termina tentando te fazer se sentir culpada.

Seu corpo, com todos os defeitos que você coloca, é sua única chance de estar aqui. Ele te permitirá cheirar, abraçar, experimentar, sentir prazer. É a coisa mais sagrada do universo, pelo simples fato de ser seu. Não se esconda, você é templo do divino.


Fique bem e em paz!

Abraço

Micheli adulta

terça-feira, 18 de maio de 2021

CT's NÃO são manicômios

Com as mudanças na Política Nacional sobre Álcool e Drogas (PNAD), de 2019, houve a redefinição e a inclusão de serviços e dispositivos de saúde que passaram a integrar a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Entre eles estão as Comunidades Terapêuticas (CT's), dispositivo destinado a tratar dependentes químicos. Desde essa medida ressurgiu um desinformado, e podemos dizer, mal-intencionado debate de que as CTs são um retorno aos antigos manicômios. Ou seja, querem dizer que são lugares de reclusão, que afastam os pacientes de seus familiares ou ainda que são uma tentativa de higienização social.

Assim, por eu conhecer intensamente o trabalho da ATENA (www.atenamafra.org.br) e de muitas outras CT’s que desenvolvem um trabalho ético a partir de boas práticas clínicas, baseadas em evidências científicas, busco aqui desmistificando, principalmente para profissionais de saúde, conceitos equivocados sobre esse equipamento de saúde que merece nosso olhar respeitoso e atento. Inclusive para que haja melhoria nos serviços prestados.


As CT’s podem ser definidas como ambientes residenciais livres de drogas, com trabalhos voltados para a (re)habilitação psicossocial. Trata-se de um ambiente de intensa interação social entre seus pares, onde as pessoas com problemas de dependência química convivem de forma organizada e estruturada para promover uma mudança em seu estilo de vida. Estão livres de drogas, enquanto recuperam a sua saúde física, reconstroem valores pessoais e sociais, buscam autoconhecimento e novas formas de estabelecer relações saudáveis.. Também é um ambiente de resgate de autoestima, dignidade, amor próprio, autonomia, ajuda ao próximo e uma visão realista de si e de sua família. A comunidade terapêutica é destinada a ajudar as pessoas num compromisso com a mudança de si mesmo, com a busca da honestidade pessoal e resgate de um projeto de vida, não mais um projeto de morte.

É importante entendermos que a recuperação é considerada um processo demorado em longo prazo, em etapas, numa somatória de cuidados e evoluções pessoais. Não existe um modelo único que funcione para todos. Cada indivíduo terá necessidades diferentes e precisará de equipamentos diferentes de cuidados mediante as necessidades do quadro clínico e da evolução de sua doença naquele momento de vida.

O acolhimento em CTs é tipicamente maior do que em programas de curto prazo (como deseintoxicação hospitalar), mas em geral aqueles que permanecem por mais tempo têm resultados significativamente melhores do que as pessoas que abandonaram precocemente. Isso levou as CTs a promoverem adaptações com a melhoria do acolhimento, com o melhor envolvimento da família e da rede social, bem como o uso da promoção da permanência inicial por meio de entrevistas motivacionais, indução na cultura da CT e outros tipos intervenções psicossociais. Posteriormente ao acolhimento em CT os cuidados contínuos são necessários para manter a recuperação que foi iniciada. Alguns estudos revelaram que a prestação de cuidados, aliada à combinação do tratamento em CT e subsequente cuidado posterior, tem gerado melhores resultados quando a rede de assistência trabalha de forma integrada e de forma eficiente. Realidade essa que no Brasil é  muito falha

A CT é uma experiência em desenvolvimento contínuo que vem reconfigurando as diversas ferramentas de tratamento e de formação das comunidades de mútua ajuda em uma metodologia sistemática de transformação de vidas. Apesar da longa e mundial disponibilidade do tratamento do modelo de CTs, muitas delas sobreviveram com poucos ou nenhum investimento público.

Muitas críticas sobre as Comunidades Terapêuticas passaram a ser apresentadas e as muitas delas passaram a ser questionadas de forma veemente. Entre as críticas estão os altos custos do tratamento residencial de longo prazo, a falta de evidência de eficácia e desrespeito aos direitos humanos percebidos em alguns dos locais visitados. Também são questionadas as altas taxas de evasão e recaída, expectativas pouco realistas, normas sociais de boa convivência entre os pares muitas vezes interpretadas como muito rígidas e a presença do elemento espiritual/religioso.

Apesar de uma longa tradição de experiências de CTs no Brasil e no mundo, a base de evidências cientificas para a efetividade do modelo é ainda limitada. Até porque, a abstinência e o término do tratamento foram as únicas medidas de desfecho nos principais estudos e não objetivaram outras mudanças (menor criminalidade, engajamento em empregos pós tratamento, etc). Somente um único estudo conduzido pelo dr. Pablo Kurlander trouxe dados pós acolhimento diferentes da abstinência absoluta.

Atualmente, muitas Comunidades Terapêuticas oferecem uma abordagem de tratamento, caracterizada pela variedade de recursos terapêuticos oferecidos. Assim como qualquer outro serviço e equipamento de saúde, necessita do desenvolvimento constante de pesquisas e capacitação dos profissionais para oferecer aos dependentes de drogas e seus familiares um atendimento com respeito e profissionalismo, contribuindo para uma mudança verdadeira de estilos de vida.

No Brasil, as CTs são regulamentadas pela RDC 29/2011 da ANVISA e CONAD 01/2015. Aqui, considera-se que as CTs financiadas pelo plano nacional sigam o rigor de suas normativas, fiscalizações e aprimoramentos adequados. O fato de que elas foram incluídas na RAPS não significa que todos os pacientes devem se tratar utilizando essa modalidade, mas sim que ela será mais uma das possibilidades existentes, o que é muito louvável. Destaca-se a importância da fiscalização para que funcionem de acordo com os Direitos Humanos e com as normas técnicas promulgadas, as quais incluem a presença de equipe multidisciplinar, a possibilidade de uso de medicação e o fato de ser um tratamento predominantemente voluntário, em liberdade. Assim, estão longe de serem locais “manicomiais” e muitas delas prestam um valioso trabalho no resgate de vidas e histórias.

Micheli Krayevevski Eckel - Psicóloga da ATENA

 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

A construção da AUTOESTIMA

 Qual seu sentimento quando se olha no espelho? Consegue enxergar suas qualidades ou só pensa em seus defeitos? Você tem orgulho de quem é ou vive fazendo comparações com a vida dos outros e se sentindo inferior?

Desenvolver uma boa autoestima proporciona uma mudança significativa no modo como você se sente e vive, porque não gostar de si traz sofrimento diante do mundo. Mas é você, contra você mesmo. Quando se livra disso e passa a gostar de ser quem é, a vida se torna mais leve, bonita e cheia de oportunidades para serem aproveitadas. Amar a si mesmo é um dos quesitos mais importantes para uma vida feliz.

Calma, não se desespere! Se hoje você olhou no espelho e se achou horrível, todos temos dias difíceis, em que estamos chateados, com espinhas ou olheiras, dias em que não conseguimos gostar do que vemos. O problema é quando você sente isso todos os dias, o tempo todo, e nunca consegue se sentir feliz por ser quem é.


A construção da autoestima é interior muito mais do que a aparência e é um trabalho exclusivamente seu. É você quem decide que irá mudar sua relação com você mesmo e precisa encontrar seu próprio caminho e suas próprias respostas. Mas algumas atitudes podem te ajudar bastante nesse processo:

Agradeça por suas qualidades: Comece a ser grato! E se você já tem o hábito de agradecer pelas coisas que tem e por tudo de bom que acontece na sua vida, inclua na prática da gratidão o agradecimento pelas coisas boas que você é. Pense em suas qualidades e seja grato por elas. Nem sempre é fácil encontrar nossas qualidades, mas se dedique. Pense em todas as coisas boas que você é e seja grato por ter se tornado alguém com essas características positivas.

Produza: Perceber-se em crescimento é algo que faz bem a qualquer pessoa. Olhar para trás e ver o quanto você cresceu é muito bom – tão bom quanto olhar para a frente e perceber que ainda tem muito a aprender. Faça mais coisas que te façam sentir bem e, ao mesmo tempo, te acrescentem conhecimento, sabedoria, habilidades e felicidade. Quando você percebe o quanto já cresceu, uma mistura de orgulho de si mesmo e motivação para continuar acendem dentro de você.

Ria de si mesmo: Ser capaz de rir de si mesmo é uma prova de amor que você se dá. Todo mundo passa por situações embaraçosas, diz bobagens, comete gafes e “paga mico”. O que faz a diferença é como cada um reage quando passa por alguma dessas situações. Você pode morrer de vergonha e se sentir mal ou simplesmente rir de si mesmo e levar a situação de forma mais leve. Divirta-se.

Descubra o que faz você se sentir bem e abuse disso: O que faz você se sentir bem com você mesmo? Estudar? Cuidar da aparência? Descobrir coisas novas? Produzir algo? Ajudar pessoas? Fazer os outros rirem? Tudo isso junto? Ou outras coisas? Comece a perceber que coisas você faz que te fazem gostar de ser quem você é, gostar de suas habilidades e gostar de olhar para si. Faça isso!

Trate a si mesmo com carinho: Seja gentil com você mesmo, cuide-se interna e externamente com carinho, busque sempre o melhor para si. Cuide de seus pensamentos quando pensa sobre você, e cuidado quando a raiva, decepções ou falhas fizerem você querer se agredir com palavras, ações e pensamentos. Quando isso acontecer, lembre-se de que você é um ser humano que erra como todos os outros.

Se perdoe: Sabe aquele erro que você cometeu no passado e quando relembra se sente mal? E aquela sua falha de ontem que está fazendo você se sentir péssimo hoje? Esses erros fazem você acreditar que é uma pessoa horrível? Você tem o direito de se perdoar. Somos todos passíveis de tropeços e erros. Estamos aprendendo a viver, estamos mudando, estamos crescendo. Perdoe-se e deixe os erros ficarem no lugar deles, que é o passado. Se você errou, mas conseguiu tirar uma lição disso, aprendeu com o erro e não quer repeti-lo, não há por que se maltratar por algo que aconteceu no passado. O que importa é quem você é e o que faz HOJE.

Acredite que você merece tudo de mais incrível: A gente aceita o amor que acha que merece. O que você acredita que merece? Coisas mais ou menos? Coisas boas? Ou coisas incrivelmente extraordinárias? Sua resposta vai dizer exatamente o que você irá receber da vida. E isso vale para tudo: para o amor, para as amizades, para o trabalho, para dinheiro, para os seus sonhos… O que te impede de acreditar que você merece o melhor? Na verdade, provavelmente a única coisa que está te impedindo de receber coisas incríveis é você mesmo, por não acreditar que as merece.

Use o que te faz feliz: Cabelo longo ou curto, calça justa ou larga, listras verticais ou horizontais, roupa da moda, roupa fora de moda… esqueça as regras (quem as inventou?) e use o que você tem vontade!

Dê atenção às suas necessidades: Escute-se. Preste atenção aos sinais que seu corpo e sua mente te dão, eles estão sempre nos apontando quais as nossas necessidades, mas nós teimamos em ignorá-los. Quando sentir que precisa de descanso, descanse. Quando perceber que sente falta de cuidar de si, arrume um tempo para fazer isso. Se sua saúde der sinais negativos, pare tudo e priorize cuidar dela, que é o seu bem mais valioso. Quando sentir que sua vida está uma confusão, não deixe as coisas continuarem como estão, comece imediatamente a colocar as coisas no lugar.

Esqueça seus “defeitos” e vá ser feliz!: Se você tem vontade de melhorar algo em si mesmo, seja ganhar ou perder peso, fazer uma cirurgia plástica, uma mudança no cabelo, ou seja lá o que for, tudo bem! Mas não espere para viver apenas quando conseguir fazer essa mudança. Cada dia da nossa vida é muito valioso para desperdiçarmos esperando pelo dia em que poderemos aproveitá-los sendo “perfeitos”. Não deixe de curtir por vergonha de um ou outro defeitinho que você acredita que tem. Quando der para consertar você conserta, mas por enquanto VÁ CURTIR A VIDA! Não transforme isso em um pesadelo, não faça de um defeito algo tão significante a ponto de atrapalhar a sua felicidade. Coloque sua roupa de banho e entre no mar, tire muitas fotos com seus amigos, use o que você gosta, faça o que tiver vontade. A vida, infelizmente, é muito curta. Mas, felizmente, ela nos dá oportunidades de viver coisas maravilhosas, se nos permitirmos. Não deixe que coisas tão pequenas sejam mais importantes do que a sua felicidade.

 

Micheli Krayevski Eckel

Psicóloga