segunda-feira, 7 de março de 2011

Fugindo do Amor

É incrível como as pessoas tem medo de amar, mas o interessante é que todas querem ser amadas e, por isso, inventam defesas e comportamentos para fugirem das responsabilidade e dos riscos que todo envolvimento afetivo sadio exige. Todos querem dinheiro, poder, cultura, beleza física para atraírem as pessoas e serem amados por elas, mas nem todos tem a coragem necessária para amar. Para certas pessoas, o temor da rejeição é tão grande e o medo do desastre afetivo é tão assustador, que passam a dificultar qualquer relacionamento que para elas possa ser emocionalmente mais envolvente.
Faz lembrar-me de uma cliente que se julgava capaz de amar, pois afirmava que o seu maior prazer era dar felicidade para os outros. mas a verdade era outra! Na realidade era a maneira que ela encontrava de controlar e de não se envolver afetivamente com ninguém. Até mesmo sexualmente mostrava isso, pois dizia que nunca havia conseguido alcançar orgasmos, mas que tal fato não importava. Dar prazer ao outro era o que a deixava feliz.
O que acontecia era que tinha medo de usufruir do prazer que qualquer tipo de relacionamento poderia lhe proporcionar, seja ele sexual, social ou profissional. Mostrava nesses três contextos comportamentos muito semelhantes. No grupo social, sempre muito feliz no papel de anfitriã e rejeitando, quase sempre, o papel de convidada. No trabalho, sempre solicita, pronta para ajudar os outros, fazendo tudo muito perfeito e sempre sorrindo, mas nunca se permitindo ser ajudada. No sexo, sempre ativa e participante, ajudando o parceiro a realizar-se plenamente, mas nunca se realizando.
Durante o processo terapêutico acabou percebendo que esse comportamento, na realidade, era a maneira que encontrava para não se sentir dependente de ninguém, pois a fatalidade, muito cedo, lhe empurrou para esse tipo de defesa – ser amada sempre, mas amar nunca.
Contou-me que ainda bastante pequena, perdeu seu pai num acidente automobilístico e que sua mãe, alguns meses depois foi internada em um hospital psiquiátrico e logo veio a falecer também. Foi “criada” por uma tia muito enérgica, pouco carinhosa e que lhe ameaçava constantemente expulsa-la de casa.
E assim, como tinha medo de sofrer novamente, passou a rejeitar o prazer que os outros poderiam lhe proporcionar. Isso lhe dava a falsa idéia de independência, pois, se as pessoas que lhe davam amor viessem por qualquer motivo lhe faltar, não sofreria tanto. Seu grande medo era sofrer novamente por perdas afetivas e era disso que ela se defendia, deixando-se amar, mas jamais amando.
Muitas pessoas se defendem do amor inconscientemente. Existem as que sonham em amar, mas amar uma pessoa tão maravilhosa, tão formidável, tão perfeita que bem provavelmente não encontrará. A partir dessa expectativa, toda relação que venha a ter será frustradora, pois ninguém conseguirá preencher os requisitos ideiais.
Outras pessoas tem consciência do seu medo de amar e escolhem a solidão afetiva por não terem a coragem de enfrentar o perigo de serem traídas, abandonadas e julgadas incompetentes para manterem um amor. Geralmente acabam se tornando pessoas muito sofridas, amargas e criticas.
Existem também os que fogem dos riscos do amor amando de uma forma neurótica. Por estar muito ligada a figura de um dos pais, a pessoa não consegue ter o desapego do cômodo lugar de “filhinho” e ter coragem para assumir as responsabilidades de uma amor adulto. Dessa forma, transfere para a pessoa amada os sentimentos, as esperanças e os temores que tinha/tem em relação aos pais. Com isso prejudica o vinculo. Espera, desse relacionamento, as mesmas satisfações, a mesma proteção, tantas provas de amor, de cuidado e admiração, que parecem verdadeiras crianças. Querem ser perdoadas sempre, mas não perdoam nunca. Querem ser endeusadas, magoam-se facilmente e se julgam sempre injustiçadas.
Quando o amor é verdadeiro perdemos o medo de correr riscos, nos entregamos por inteiro e envolvemo-nos profundamente com a outra pessoa. Muitos não estão preparados para isso e nem se expõe para aprender. Se ama, o faz de uma forma captativa.
Não conheço e não acredito em regras que nos ensinem a amar. Podemos ler mil livros, conversar com pessoas experientes, podemos tentar controlar o coração e ter novas táticas de atuação no jogo do amor, mas será tudo em vão! A teoria não tem acesso ao coração.
Eu só acredito que para mudar a maneira de amar, a pessoa terá primeiro que mudar a sua maneira de ver a vida e, para isso, precisará de humildade, coragem e perseverança.
Amar e ser amado é maravilhoso, mas também é assustador, pois nos dá a impressão de se ter perdido todo o controle e de nos termos tornados totalmente vulneráveis. Para amar temos que ter coragem de nos expor, a humildade para perdoar, flexibilidade para conviver e bom humor para brincar. Não podemos ter medo das pessoas, medo da intimidade, de sentir e de ser sentido.

Micheli Krayevski