quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Autonomia



Incrível como o conceito de Autonomia é confundido com o de Liberdade. Filosoficamente autonomia refere-se a capacidade de um indivíduo tomar suas próprias decisões com base na razão.  Para Kant, “servir-se de sua própria razão é ser autônomo, e, portanto, livre”. É a capacidade de um sujeito tomar suas próprias decisões, de forma não forçada, baseada na realidade e informações disponíveis. Numa filosofia mais ligada à moral e à política, autonomia é a responsabilidade moral de alguém frente a seus atos.
Levando em conta todas essas definições, é possível perceber a complexidade e abrangência desse tema. A autonomia não está ligada somente a capacidade de fazer as coisas por si só, mas também de um desenvolvimento de consciência moral. Assim, somos autônomos e livres quando tomamos nossas decisões e arcamos com as consequências advindas. Por isso, devemos aprender a avaliar racionalmente as situações.
Nossos filhos aprenderam a desenvolver autonomia a partir da capacidade dos pais desenvolverem neles a independência, juntamente com a confiabilidade em suas próprias capacidades. A criança precisa da autorização dos pais para crescer e se desenvolver, e isso nem sempre é fácil.
Nós pais, somos fatores determinantes na forma como nossos filhos irão avançar e se relacionar com os desafios da vida, e a autonomia é sem dúvida um desses desafios. Ela está ligada a autoestima, pois ela precisa se sentir capaz de resolver seus próprios problemas e desta forma aprender a se relacionar, se comunicar e fazer suas escolhas.
A primeira infância é tida como o marco fundamental no desenvolvimento da personalidade. É nesta fase que se dará o tom das relações que estabeleceremos ao longo da vida.
A mãe é a primeira pessoa que o bebê se relaciona. Num primeiro momento ele se quer percebe o limite onde começa um e termina o outro – são como se fosse um só. Desta forma, ele reconhece o mundo através da percepção dela, é ela que apresenta, e isso pode ser feita de diversas formas. Pode apresentar um mundo cheio de riscos, perigoso, ameaçador, ou pode apresentar um mundo que é possível ser explorado, com beleza e o prazer por novas descobertas, mas que ele deve respeitar algumas regras de convivência, onde nem sempre encontrará prazer.
Algumas mães temem tanto o contato do filho com o mundo, seja por medo de contaminação ou de acidentes ou ainda que eles sofram, que criam uma espécie de redoma em torno da criança. A superproteção impede que a criança desenvolva recursos internos para enfrentar a vida e os obstáculos que naturalmente ela trará. Desta forma, o que inicialmente era uma proteção, se torna desproteção! Pois a criança termina por ser incapaz de administrar situações pelas quais naturalmente irá se deparar ao longo da vida.
Uma criança criada para uma vida dependente fica impedida de crescer e tenderá, inclusive em sua vida adulta, desenvolver relações de dependência. Primeiro dependente dos pais, depois do marido/esposa, trabalho e até mesmo de alguma substancia psicoativa (álcool/drogas).
Para se desenvolver as crianças precisam ser estimuladas a aprender a fazer coisas que antes não faziam. Como por exemplo: arrumar o prato, cortar a carne, arrumar a cama, colocar os sapatos... Além dessas tarefas, crescer e se tornar autônomo exige que seja desenvolvida sua capacidade de tomar decisões, fazer escolhas e assumir as consequências destas.
Neste modo de agir nossa tarefa de pais muda, não mais fazendo tudo pela criança, mas de forma alguma se torna menos importante – bem pelo contrário. Devemos manter uma distancia ideal, que permita que ele possa experiênciar o mundo, mas sem perder a perspectiva de que podemos ajuda-los sempre que necessário.
Chamei de distancia ideal porque muitas vezes teremos que assistir inúmeras tentativas e erros, e fracassos dos nossos filhos – que provavelmente não existiriam se tivéssemos feito por eles. Estaremos certamente ao seu lado para secar as lágrimas, aprender a lidar com os erros e com as perdas, levantar e tentar de uma nova forma.
Não podemos esquecer que para o desenvolvimento da autonomia de nossos filhos, é importante que eles tenham vivencias e experiências de vida, para isto, eles devem ser autorizados a experimentar e interferir no meio em que eles estão inseridos e para que isto aconteça, eles precisam se separar de nós.

Abraço

Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga / Psicopatologista / Mãe da Sofia
(47) 9193-6553

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Férias: descanso necessário!



Quando se fala em tirar férias, o natural é imaginarmos que a pessoa vai se dedicar ao descanso e repor as energias roubadas pela rotina de trabalho, muitas vezes estressante. Mas é muito comum encontrarmos quem se diz mais cansado na volta das férias do que antes.
A dificuldade em relaxar é um problema que vem se agravando. Tem gente, inclusive, que utiliza as férias no trabalho ou na faculdade para fazer cursos ou trabalhos extras. Ou seja, não permite que o organismo se revigore. Há também quem resolva embarcar em excursões desgastantes. Todos acordam às sete da manhã e passam o dia inteiro em um vaivém frenético. Dormem tarde para ter a sensação de que o dinheiro foi bem empregado. Conclusão: na volta, a pessoa está um farrapo humano, precisando de férias das férias.

Como as férias são um período necessário na vida do ser humano, em que se deve procurar gozá-lo da melhor forma possível, o ideal é planejar como o tempo será empregado. Se você tiver somente dez dias de descanso, mas utilizá-lo para realmente descansar a cabeça, se divertir, rir e conhecer pessoas: muito bom, já está valendo a pena! O importante é reservar um tempinho para se desligar das atribulações que mais causam estresse. Até mesmo em períodos que não tem a oportunidade de tirar férias. Um final de semana ou um feriado prolongado, também devem ser bem utilizados.

Para quem não consegue relaxar e começa a sentir que a tensão permanente está afetando sua saúde, o processo de cura pode se dar de algumas maneiras:
- Exercícios físicos: Ocorre liberação de endorfinas, essencial para o equilíbrio físico e emocional;
- Alimentação adequada: Pessoas agitadas devem evitar o consumo exagerado de alimentos e bebidas estimulantes (comida apimentada, álcool e café);
- Desenvolvimento da espiritualidade: É importante cuidar da alma, ou seja, adotar leituras de textos específicos, momentos de meditação e oração;
- Psicoterapia: Busque ajuda de um psicólogo. Um profissional poderá ajudar a descobrir e corrigir essa programação psíquica que o impede de estar em paz.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Estresse Pós-Traumático



 
O filme Batman Begins, mesmo sendo um historia já recontada várias vezes, este traz uma série de aspectos pertinentes quanto às possíveis repercussões de traumas psicológicos. Perdas de familiares são consideradas potenciais geradoras de traumas psicológicos, e o menino Bruce Wayne testemunha a morte repentina de seus pais. O trauma psíquico foi descrito pela primeira vez por Freud como um afluxo de excitações excessivo em relação à capacidade do indivíduo de dominá-las e elaborá-las. Atualmente, compreende-se que traumas psicológicos impactam fortemente na qualidade de vida, caracterizando uma desordem chamada transtorno de estress pós-traumático (TEPT), que se manifesta por recordações aflitivas, pensamentos indesejáveis recorrentes, estado de alerta, ansiedade, insônia, entre outros sintomas.
Nolan constrói o protagonista com referenciais baseados na realidade. O trauma sofrido pelo garoto permeia sua vida. De fato, estudos evidenciam que as experiências traumáticas podem alterar o equilíbrio psicológico, biológico e social de um indivíduo, e que a lembrança do evento traumático influencia as suas outras experiências.
A memória traumática de ter visto os pais serem baleados acompanha Wayne de maneira vívida, tal como em muitos casos de TEPT, em que os indivíduos experimentam flashbacks e pensamentos intrusivos. As memórias traumáticas geralmente são fragmentadas e carregadas de forte expressão emocional, disparando estados de confusão, ilustrados no filme com as cenas de flashes dos conflitos internos e da luta contra as emoções negativas.

Na prática clínica vejo que determinadas memórias traumáticas levam a comportamentos destrutivos, tais como o abuso de substâncias e a automutilação. Entretanto, os eventos traumáticos em si não são determinantes isolados ou exclusivos do TEPT. Experiências intensas e devastadoras possuem efeitos variáveis, o que enfraquece o conceito de "reação universal ao trauma". Muitas vítimas procuram apoio profissional, literatura especializada e amizade, enquanto outras enfatizam o colapso e/ou a vitimização. O Batman é humano, não é perfeito. Mas transformou suas emoções fortes e autodestrutivas em algo positivo – ao menos nesse primeiro filme da série.
Realmente, um trauma psicológico é capaz de fomentar comportamentos salutares de resiliência (capacidade de atravessar eventos traumáticos e de retomar qualidade de vida satisfatória). Wayne é orientado a buscar um sentido espiritual mais profundo de seu destino, assim como lembrar do legado de seu pai e da tradição filantrópica da sua família. Estudos evidenciam que práticas como a meditação e a oração exercem papel ativo no desenvolvimento de mecanismos de superação psicológica.
A motivação de encontrar novos objetivos e sentidos na vida, a crença que é possível influenciar o entorno e a opinião que se pode aprender e crescer a partir das experiências positivas e negativas também são comportamentos que conduzem a resiliência.

Um dos objetivos centrais das psicoterapias aplicadas às vítimas de traumas psicológicos é atribuir gradualmente novos significados emocionais à experiência traumática passada. O filme traz uma referência objetiva também encontrada no âmbito psicoterapêutico: transformar a dificuldade numa aliada do desenvolvimento pessoal.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dependência afetiva: a inimiga do amor próprio




Você é conhecida por ter relacionamentos ruins? Vista como a famosa “dedo podre”? Você não se importa com seus próprios interesses, se anula, se fixa no relacionamento e faz dele o centro de sua vida?
Você Idealiza seus relacionamentos? Está sempre pronta a agradar? Não consegue dizer "não", mas se arrepende depois?   Fica do lado do telefone, ansiosa, esperando ele (a) ligar?

CUIDADO VOCÊ PODE ESTAR SOFRENDO DE DEPENDÊNCIA AFETIVA!

Dependência afetiva é um dos principais elementos de bloqueio na vida de um indivíduo.
Dependência Afetiva é um distúrbio de comportamento que afeta um número muito grande de homens e principalmente mulheres. Em geral, pessoas que amam ilimitadamente, que vivem em uma linha tênue que alterna entre carência, amor e sofrimento, na grande maioria de total baixa autoestima. Quase todas adquiriram este distúrbio em alguma experiência onde suas necessidades emocionais não foram atendidas, seja na infância ou mesmo em relacionamentos passados.
É geralmente uma pessoa que cresceu em uma família disfuncional, na qual suas necessidades emocionais não foram atendidas. Indivíduos que não se sentiram apoiados e valorizados, que se relacionaram em ambientes conturbados, daí passam a ver sua realidade como fria, vazia e solitária.

Pessoas carentes afetivamente atraem relacionamentos confusos e insatisfatórios por apresentarem-se tão disponíveis em troca de amor, carinho e atenção. Correm o risco de serem rejeitados, não valorizados e menosprezados pelo parceiro. Na tentativa de que os relacionamentos preenchem este vazio sentido por elas.
A pessoa acredita que não seja merecedora de amor. Na verdade, muitas vezes, ela até tem consciência de que o relacionamento não é saudável, mas não consegue sair desta situação, isso porque as motivações que a levaram a tal posição são inconscientes.

Algumas características da pessoa que sofre de dependência afetiva:

- Não se importando com seus próprios interesses, essas pessoas por muitas vezes se anulam, se fixam no relacionamento e fazem dele o centro de sua vida;
- Idealizam relacionamentos;
- São inseguros e estão sempre prontos a agradar, demonstra muito amor e muito controle, sem perceber que isso acaba por sufocar a outra parte;
- Não consegue dizer "não", mas se arrepende depois;
- Se compromete a fazer coisas que não quer fazer, e depois acaba não conseguindo dar conta delas;
- Pensa primeiro nos outros, a não ser egoísta e a se colocar em último plano;
- Tem relacionamentos ruins repetidas vezes;
- Fica do lado do telefone, ansiosa, esperando o parceiro (a) (namorado/marido) ligar;
- Vive checando e-mail e celular para ver se há mensagens;
- Cancela um encontro com um (a) amigo(a) para se encontrar com ele de última hora;
- Abre mão de amizades, interesses e objetivos pelo relacionamento;
- Substitui rapidamente um amor por outro;
- Corre para casa para estar disponível ao parceiro;

Caso você tenha se identificado com a situação, não hesite em buscar ajuda, pois o caminho para administrar o problema é desenvolver a auto aceitação e com isso a autoestima. Você precisa aprender a amar de forma saudável, estando em primeiro lugar e dosando para não ser egoísta. Ame a si mesmo, resgate seu amor próprio! Sem isso jamais poderá se relacionar de forma equilibrada.
Busque dentro de você e se achar que não é capaz, procure ajuda um profissional especializado, é o grande diferencial que pode ser de grande ajuda.

Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga e Psicopatologista