sábado, 7 de janeiro de 2012

Timidez ou Fobia Social?


A divulgação dos sintomas de diferentes psicopatologias (diagnosticadas pelo Dr. Google), acarreta um risco cada vez mais recorrente: o auto-diagnóstico. Há um número cada vez mais significativo de pacientes que, quando entram no consultório do psicólogo, “já sabem” o que têm. Os “rótulos” são um fardo pesado e limitativo, já que, uma pessoa que se convence de que tem uma determinada perturbação, é natural que se comporte como tal – passando a incluir uma série de sintomas no seu quotidiano. Os equívocos, geralmente, são esclarecidos com uma conversa séria junto de um bom profissional.
Um dos equívocos mais frequentes está relacionado com a dificuldade em distinguir fases de tristeza com estados depressivos (de que falarei um dia destes). Outro é a constante confusão entre os conceitos de medo e fobia. Por exemplo, há muitas pessoas que se sentem desconfortáveis com a ideia de andar de avião, mas isso não significa que sejam fóbicas.
Uma fobia implica o medo desproporcional em relação a determinados alvos ou situações. Neste caso, não há apenas medo. Os níveis de ansiedade podem ser tão elevados que a pessoa sinta uma necessidade extrema de extinguir completamente o comportamento.
É por isso que a fobia social não pode ser confundida com timidez. De um modo resumido pode-se dizer que a grande diferença está na intensidade do desconforto e nos constrangimentos do dia-a-dia. É como comparar um tigre com um gatinho.
Assim, uma pessoa tímida irá sentir-se enervada com a hipótese de se posicionar diante de algum público, mas isso não quer dizer que seja incapaz de fazer. Para uma pessoa que sofra de fobia social esta situação pode gerar um conjunto de sintomas relacionados com o episódio de pânico: taquicardi, tonturas, diarreia, sudorese intensa, rubor facial e/ou falta de ar. Como é previsível, as situações potencialmente geradoras deste estresse vão sendo sistematicamente evitadas. O privando de diversas situações sociais. Ao fim de algum tempo a pessoa percebe que não é capaz de ter uma vida “normal” – evita entrar em determinados locais sozinha (com receio de ser observada ou avaliada), não é capaz de falar mesmo a pequenos públicos, foge de entrevistas de emprego, deixa de praticar esportes coletivos e de participar em atividades de lazer que envolvam mais pessoas, entre outros. Ou seja, perde uma série de oportunidades de se relacionar e viver.
Em termos profissionais e acadêmicos estas pessoas deixam de progredir, pois evitam mostrar aquilo que valem. Na escola este medo imensurável manifesta-se através da incapacidade de responder a uma pergunta colocada pelo professor (mesmo que tenha a certeza da resposta correta). Em contexto profissional o padrão comportamental é idêntico: todas as ideias potencialmente inovadoras são desperdiçadas porque a pessoa não é capaz de se expor.
Há uma multiplicidade de circunstâncias que podem estar na origem desta perturbação, mas isso não quer dizer que, depois de identificadas as causas, a pessoa se sinta “curada”. É provável que seja necessário recorrer a uma intervenção psicoterapêutica e/ou farmacológica para que a pessoa se sinta apta a enfrentar os desafios da sua vida social e profissional. Em oposição, uma pessoa tímida precisará ultrapassar algumas limitações, mesmo que para isso precise de auxílio psicoterapêutico.