terça-feira, 19 de julho de 2011

A Hora da Estrela (Clarice Lispctor)

"Felicidade? Palavra doida inventada por nordestinas que andam aos montes por aí". A parte introdutoria dessa obra é um momento em que o autor (Clarice Lispector se colocou como homem para escrever o livro, já que, segundo ela mesma, uma mulher não conseguiria retratar essa história) é invadido por uma necessidade de relatar a vida de uma nordestina que encontrou. Ele vive a partir daí uma luta contra sua vontade, já que não quer escrever uma história tão mediocre. Durante toda a narrativa desculpa-se com o leitor por o invadir com essa história.
Macabéa é o nome dessa alagoana de "ovários murchos", mas esse nome surge no livro somente quando já passado da metade. Antes o auto a chama somente de "nordestina" ou "datilógrafa" - sua profissão. Nessa parte inicial, antes do nome revelado Macabéa simplesmente não existia. Seu nome surge exatamente no momento em que ela começa a namorar com o também nordestino Olimpico. Pois é nesse momento que ela se torna sujeito, o olhar de Olimpico a torna gente!
Olimpico um homem sem instrução nenhuma, que guarda o segredo que o fortalece e o faz sentir mais homem. Matou um outro homem. Ele mais tarde vira deputado e se casa com Glória, a colega de trabalho de Macabéa. Olimpico tem breves encontros com a sua então namorada Maca. Em um desses encontros ele lhe paga um café e considera muito grande o investimento para uma namorada como a pobre alagoana. Afinal, Macabéa só sabia chover...
Essa moça sonsa nos enche de piedade e por vezes raiva durante sua historia. Piedade por sua ingenuidade e seus pedidos de desculpas (por só chover, por não ser uma boa datilógrafa etc, etc...). Raiva por estar grávida de um futuro que nunca chega, nem nunca chegou!
No livro do Pe. Fabio de Melo e Gabriel Chalita, o padre escreve ao seu amigo essas palavras "A hora da estrela foi a hora da morte. Não havia outro desfecho possível. Macabéa não poderia chegar viva ao outro lado da avenida, pois não teria sonhos para continuar. Não teria um amor que a encharcasse de motivos e a ajudasse a suportar as dores da vida" (Cartas Entre Amigos - Sobre medos contemporâneos).
Definitivamente Maca era um tipo de "capim vagabundo", e esse, a unica coisa que deseja é o solo. Enfim o autor "se livra" da nordestina e nos enche com essa obra que nos faz refletir o valor da vida.
O maior ensinamento do livro fica no trecho: "Porque há direito ao grito. Então eu grito". Gritar por mim, e por todas as nordestinas espalhadas por aí procurando uma felicidade que só existe do outro lado da avenida...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dependencia Emocional

Não é incomum, nos depararmos com notícias sobre mulheres que foram agredidas por seus companheiros – muitas chegando ao ponto de ficarem desfiguradas. O mais estranho (aos olhos de quem está de fora) é que acabam dando declarações sobre perdão e amor. Há quem fique indignado diante de tais afirmativas e não consiga compreender como essas mulheres, mesmo após tantas agressões físicas e psicológicas, conseguem perdoar o agressor.
A violência doméstica tem um ciclo. A mulher passa pela fase de lua de mel, na qual tudo está bem e ela se sente protegida; depois vem a tensão e a crise, que culminam inicialmente em violência psicológica e logo em seguida a violência física; ela pensa em tomar uma atitude; o companheiro pede perdão, porque se arrepende; e ela acredita, retorna ao relacionamento, pois espera que tudo volte a ficar bem... Vulgarmente as pessoas acham que a mulher gosta de ficar nesta situação, mas não é verdade.
Em muitos casos, o que acontece é a dependência emocional, visto que as mulheres tendem a idealizar o relacionamento e até mesmo o companheiro, sendo difícil para elas dissociar o homem por quem se apaixonaram daquele que lhes agride. O amor patológico é aquele que prejudica a relação, a si mesmo e ao outro – não é saudável. A dependência afetiva se torna presente e o outro se transforma no centro de suas vidas, aqui podemos chamar esse processo de “cegueira emocional".
Existe ainda toda uma educação sexista que colabora com isso, nos lembrando que muitas mulheres crescem acreditando que só serão felizes se conseguirem se casar. Também vemos muitas mães que dizem para as filhas, vítimas de violência, que “é assim mesmo”, “não tem jeito”, “melhor com ele”, mostrando que o comportamento acaba sendo transmitido na família de geração em geração.
Os casos que chegam ao consultório psicológico costumam ser graves, com mulheres que sofrem violência emocional e física e até mesmo correm risco de morte. Este é um problema democrático, porque não afeta apenas uma classe social, faixa etária, religião ou raça, em todos os lugares podemos encontrar uma vítima.
A dependência emocional em relação a um companheiro violento tem tratamento. É um processo. Não acontece do dia para a noite, mas aos poucos é possível fazer com que essa mulher dissocie amor de violência. O próprio homem acha que age por amor, por medo de perder “sua mulher” e o psicoterapeuta trabalha para mostrar que amor, afeto e respeito podem e devem andar juntos. Um não é do outro, não deve haver relação de posse, sempre devemos buscar no outro relacionamentos construtivos e que nos tragam crescimento e felicidade.
As pessoas que tendem a permanecer num relacionamento destrutivo, percebem que algo está errado, sentem-se infelizes, mas se sentem incapazes de colocar um ponto final. Essa incapacidade faz parte do problema, continuar sofrendo e infeliz num relacionamento destrutivo, mostra o quanto é necessário uma ajuda profissional urgente.
A melhor ajuda é a psicoterapia, mas o primeiro passo é assumir que a doença existe, e o segundo passo é buscar auxílio de um psicólogo ou grupos de apoio. É impossível conseguir amar de forma saudável se estamos doentes, é importante manter sempre atividades que goste de fazer e nunca abandonar nada por causa do outro, lembrem-se que o outro deve ser complemento saudável de sua vida e não o centro da mesma. Buscar ajuda o mais rápido possível é o recomendado, amar demais é um vício tão perigoso quanto qualquer outro, e pode ser fatal.

Micheli Krayevski
(47) 9193 6553

terça-feira, 12 de julho de 2011

EJACULAÇÃO PRECOCE E IMPOTENCIA SEXUAL MASCULINA



É impressionante como problemas psíquicos seguem determinados caminhos. A ejaculação precoce e a impotência sexual são precedidas por algumas alterações emocionais e seguidas de muitas outras, geralmente mais intensas e graves. A partir do momento que o exame clínico, feito pelo médico, não detecta qualquer alteração de ordem física, devemos tratar dos aspectos emocionais das disfunções sexuais.
Nos tempos atuais, em que procuramos em farmácias soluções para as dores do mundo, onde as pessoas buscam resultados quase que imediatos para todos problemas, muitas vezes se corre o risco de se tratar apenas as consequências, esquecendo das causas e condições geradoras da situação. O resultado é uma cura artificial e sintética, podendo cronificar determinadas situações de sofrimento ao indivíduo. Obviamente não podemos, em hipótese alguma, desmerecer os avanços da medicina na área sexual, e os novos remédios no mercado, que abriram a possibilidade de cura e prolongamento da satisfação sexual, principalmente na terceira idade.
O inadmissível é o uso indiscriminado destes produtos, em pessoas que deveriam ter outra abordagem terapêutica, pois como disse anteriormente, o exame clínico deveria ser a ponte para determinar se o tratamento deve ser medicamentoso, psicoterápico ou ambos. Infelizmente tal fato não ocorre, na maioria das vezes, inclusive devido aos interesses da comercialização farmacológica.
A impotência é, em boa parte dos casos, um sinal orgânico para que a pessoa reflita sobre sua vida sexual, devendo ampliar ou mudar suas idéias acerca do que é uma verdadeira relação de prazer.
A impotência sexual é um fardo quase que insuportável para os homens. Nada despotencializa mais a autoestima deles. Se estivermos falando de potência ou impotência, logo chegaremos a lógica conclusão de que as raízes do problema estão ligadas aos aspectos do poder. Como o sujeito vivencia o mesmo, é o fator determinante de sua disfunção sexual. A impotência é o retrato físico de determinada decepção, amargura ou desilusão emocional. É a crença extremamente internalizada de que aquilo que era uma fonte de imenso prazer se transformou num profundo medo de ser constantemente colocado a prova. Devemos nos perguntar, como ocorre esta "rebelião" através de nossos sentidos? A resposta é que a pessoa acometida de tal distúrbio, quase sempre procura negar a essência de seu ato sexual. Se desejar desenfreadamente sexo puramente para provar poder, seu corpo fornece a mensagem oposta, de que a pessoa necessita urgentemente de uma ligação profunda e amorosa. Se ocorrer infidelidade ou promiscuidade, a mensagem é a culpa resultante de tal conduta que afetará a esfera sexual. Mesmo no caso de uma relação estável e amorosa, a mensagem da impotência pode ser que a pessoa simplesmente abortou ou trocou seu gozo sexual, por alguma obrigação que tende cumprir segundo determinado código moral.
A ejaculação precoce possui o significado inconsciente de que a pessoa "não pode perder tempo com seu prazer sexual", simplificando ao máximo o ato sexual. Talvez sua energia esteja quase que totalmente deslocada para o trabalho ou ambição material. O fato é que a atitude sexual, nada mais é do que o espelho de determinada conduta ou visão de mundo. O homem moderno ingenuamente tenta dissociar seus afazeres profissionais das questões íntimas, quando um é totalmente o reflexo do outro. Jamais poderemos encher nossa alma com a luta diária pelo poder e ascensão social, sem que tais questões afetem nossos sentimentos mais íntimos.
Temos de pensar nos sintomas dos distúrbios sexuais, como mensagens que nossa mente nos passa, sendo que a principal delas é que devemos novamente priorizar o lado afetivo. Tanto a impotência sexual quanto a ejaculação precoce, clamam para que a pessoa recupere seu prazer sexual perdido no meio das ambições que preencheram a vida.
Obviamente o aspecto de egoísmo também está presente nos distúrbios sexuais, pois o outro será privado da satisfação sexual. Logicamente isto não é uma regra, mas temos de investigar cada caso, para sabermos as motivações inconscientes dos bloqueios, e via de regra nos deparamos com um caráter individualista, possessivo e controlador. Infelizmente esta postura de sabotar o prazer do outro, acaba gerando o fim de sua própria satisfação sexual. Em nossos tempos, o ser mais "subversivo" é aquele capaz de usufruir sem culpa não apenas da satisfação sexual, mas da reciprocidade, companheirismo e intimidade plena de um relacionamento.
O tratamento para a impotência sexual e ejaculação precoce de natureza psíquica passa obrigatoriamente pela psicoterapia. A impotência e a ejaculação precoce é um teste duríssimo para medir o grau de confiança. O quanto aceita ser visto como alguém falível, ao invés do conceito cristalizado de que deve estar sempre pronto para o ato sexual.
Talvez toda a problemática acima citada, seja o epitáfio de um modelo de vida que deve se extinguir, se a pessoa realmente desejar satisfação plena. A desumanização de todo tipo de relacionamento, caminha a passos largos em nossa era. A doença seja física ou psíquica, tem preenchido o espaço que seria cativo da felicidade conjugal e/ou da relação. O uso de qualquer medicamento para a impotência sexual de causa psicológica, apenas mascara e adia a solução do problema, sendo que a terapia é fundamental para o tratamento eficaz.

Micheli Krayevski
Psicóloga
(47) 9193 6553