segunda-feira, 27 de abril de 2015

Os segredos nossos de cada dia



Guardar segredos pode ser algo aterrorizante. Muitas pessoas passam anos angustiadas, sofrendo realmente, por não ter a quem contar algo que lhe aconteceu. Medo de não ser aceito ou de que seu segredo se dissipe no vento. Falar de nossa vida não é mesmo algo simples.
Talvez por isso não me assustei ao saber de que o site www.postsecret.com está fazendo o maior sucesso. A proposta do site é tornar público segredos alheios. Dos mais “bobos” aos mais “cabeludos”.
A própria neurociência, pode nos explicar que contar um segredo de maneira segura, e mesmo vê-lo tornar-se público, é um alívio. O problema de ter um segredo é que o cérebro, uma vez que monta uma sequência de comandos, como as ações motoras para cantarolar uma musiquinha ou as ações mentais de construir um pensamento, se prepara para executá-la. Mas entre a preparação e a execução existe o córtex pré-frontal, com poder de veto, ou seja, nos bloqueia. É graças a ele que pensar em falar besteira, em xingar, ou mesmo cometer um crime não se concretiza imediata e inevitavelmente.  (uffaaa! Ainda bem! rsrsrs).
Se a ação preparada foi uma quase-resposta intempestiva, sem problemas: quando o gatilho da quase-besteira passa, o córtex pré-frontal não precisa mais exercer seu poder de veto. A vida segue alegremente.
Mas segredos são outra história: são fatos, desejos, memórias, pensamentos que fazem parte de nossa essência, que nos acompanham ao longo dos dias, mas que o córtex pré-frontal julga serem incomunicáveis. E suprimir uma frase que está sempre na ponta da língua exige controle executivo, ou seja, atenção constante. Não poder falar de algo que nos consome é mentalmente exaustivo.
Mas poder contar um segredo – ah, poder contar um segredo, poder deixar o córtex motor seguir adiante e soltar toda aquela série de comandos preparados e ensaiados tantas vezes, mas sempre contidos. O alívio de não precisar mais exercer controle pré-frontal atento sobre sua língua é semelhante ao de poder, finalmente, fazer xixi. Com benefícios mentais muito maiores, claro.
Este é o serviço que a psicoterapia ou mesmo a consulta psicológica também oferece: o alívio de ser ouvido com segurança. Sempre digo que a melhor parte de um consultório de psicólogo é que tem a segurança de dizer o que quiser e sem aquele julgamento moral, normalmente encontrado em outros ouvidos. Como uma cliente minha me disse: “Obrigada por levar embora minha dor, meus segredos. Agora posso respirar.” ou o famoso: “Nossa! Estou deixando 100 kg aqui.”


Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga
(47) 9193-6553