quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O faz-de-conta de cada dia


Os jogos não são soluções mágicas, que resolvem qualquer problema da criança, mas certamente, ajudam no seu desenvolvimento, facilitando a descoberta do sujeito dentro de suas características singulares. Pelos jogos as crianças renovam as culturas infantis, desenvolvem formas de convivência social, se modificam e recebem novos conteúdos, a fim de se fortalecer. É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança vivencia a vitória da aquisição de um novo saber, o acrescentado a cada novo brincar.
A brincadeira libera o aprendizado sobre as pessoas e as coisas do mundo. Através do contato com seu próprio corpo, o seu ambiente, com a interação com outras crianças e adultos, as crianças vão desenvolvendo a capacidade afetiva, a cognição e a linguagem. “Na brincadeira infantil a criança assume e exercita os vários papéis com os quais interage no cotidiano. Ela brinca, depois, de ser o pai, o cachorro, o motorista, jogando estes papéis em situações variadas” (OLIVEIRA, 1992).
O faz-de-conta é uma brincadeira de complexidade, uma atividade lúdica que libera o uso da criatividade. Pelo faz-de-conta a criança pode reviver situações que lhe causam alegria, medo, raiva ou ansiedade. Ela pode, neste jogo mágico, expressar e elaborar fortes emoções muitas vezes difíceis de suportar na vida real. E a partir de suas ações nas brincadeiras, explora as diversas representações que tem destas situações difíceis, podendo melhor compreendê-las ou reorganizá-las.
De acordo com Vygotsky, o faz-de-conta é uma atividade essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois exercita o plano da imaginação, a capacidade de planejar, imaginar situações, os seus conteúdos e as regras próprias a cada situação. Para este autor, “a situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe da boneca e a boneca como criança e, dessa forma, deve obedecer às regras do comportamento maternal” (VYGOTSKY, 1998).
Kishimoto destaca a situação imaginária e as regras, como elementos importantes na brincadeira infantil, onde, nas situações imaginárias claras ou não, há regras implícitas e explícitas. Através da brincadeira, a criança desenvolve a atenção, a memória, a autonomia, a capacidade de resolver problemas, se socializa, desperta a curiosidade e a imaginação, de maneira prazerosa e como participante ativo do seu processo de aprendizagem. “Ao prover uma situação imaginativa por meio da atividade livre, a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais” (KISHIMOTO, 2003).
Frente os entendimentos apontados, a escola de educação infantil deve atender às necessidades da criança em suas diferentes fases do desenvolvimento, com propostas pedagógicas adequadas, que contenham atividades que despertem sua imaginação, contribuindo para o processo de construção da sua autonomia e conhecimento.
REFERENCIAL TEÓRICO

KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2003
OLIVEIRA, Z. M. Creches: Crianças, faz-de-conta & cia. Rio de Janeiro: Vozes, 1992.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PEDOFILIA: a doença por detrás do crime


Mesmo sendo considerado um fato indignante a Pedofilia é uma realidade que sempre esteve presente em nossa sociedade. Mesmo nos tempos mais remotos já foram encontrados vestígios dessa prática. Em muitas culturas era normal o adulto ter relações sexuais com crianças, já que fazia parte da iniciação sexual de seus membros, como nas tribos de Marind, na Malásia. Na Grécia Antiga, a prática não era bem aceita se os meninos tivessem menos de 12 anos, apesar de não haver lei contra isso. Na Idade Média, a partir de determinações dos imperadores bizantinos Constantino e Justiniano, as relações sexuais entre adultos e crianças começaram, de fato, a ser condenadas. Hoje as leis estão cada vez mais rígidas contra esse tipo de exploração sexual. Como a lei aprovada recentemente, em que portar material pornográfico, incluindo crianças é crime e dá cadeia! Mesmo assim são pouquíssimos os casos denunciados.
Como o caso ocorrido recentemente em Recife, o padrasto engravidou a menina de 9 anos – que ele abusa desde os 6 anos. Outro, em nossa região, ocorreu em Jaraguá do Sul, um rapaz de 26 anos abusou sexualmente de uma menina de apenas 2 anos. Esses são dois casos que foram divulgados pela mídia, mas muitos outros casos ocorrem e são encobertos. Socialmente são fatos revoltantes de causar repulsa em muitos. Até mesmo em presídios é uma pratica condenada pelos demais detentos (esses que já chegaram a matar!).
Vendo casos assim, nos perguntamos: o que passa pela cabeça de um sujeito desses? A psicologia e a sexologia já têm compreensão disso.
A pedofilia é uma parafilia, que quer dizer um padrão de comportamento sexual em que o prazer não está no ato sexual em si, mas em outra atividade ou objeto. Para o pedófilo o objeto de desejo é a criança e só através dela sentirá prazer sexual. Esse comportamento sexual é considerado pela OMS - Organização Mundial da Saúde uma anomalia, doença e perversão.
O pedófilo tem no mínimo 16 anos de idade e é pelo menos 5 anos mais velho que a vítima. O abuso ocorre em todas as classes sociais, raças e níveis educacionais. A grande maioria dos abusadores são homens, mas existem casos de mulheres também.
Esse abusador justifica seu ato dizendo que a criança passa a se sentir especial, que está oferecendo a oportunidade dela se desenvolver sexualmente, sentir prazer... Mas na realidade as conseqüências emocionais para a criança são bastante graves, tornando-as inseguras, culpadas, deprimidas, com problemas sexuais e nos relacionamentos íntimos na vida adulta.
Como na grande maioria das vezes o molestador é alguém próximo da criança é de suma importância que prestemos atenção nas mudanças de comportamento da criança e demos sim importância a suas denuncias e demais formas que elas utilizam para expressar que está sendo abusada.
Se a família ou a escola não se preocupar em cuidar e proteger essas crianças, elas sem duvida nenhuma estarão cada vez mais vulneráveis ao abusador. O governo disponibiliza um número para que esses crimes sejam denunciados, sem necessidade de identificação. É o disque 100, que pode ser ligado de todo território nacional. Temos que ter coragem e denunciar qualquer suspeita.

Micheli Krayevski – Psicóloga

chelykrayevski@gmail.com

Grupo de Apoio: oportunidade de rever a sexualidade de mulheres mastectomizadas


O câncer é hoje um tema muito considerado pelos meios de comunicação por tudo o que ele representa culturalmente e por suas implicações fisiológicas. Este tema é muito abordado em livros, revistas e publicações científicas apontando formas de diagnóstico, desenvolvimento e tratamento da doença. Essa exploração normalmente é enfocada no câncer como uma patologia e não na pessoa que vive esta situação.
O ser humano é constituído de biológico, psicológico e sócio-cultural; vivenciar este tripé equilibradamente o faz mais pleno e satisfeito consigo mesmo e com seu meio. Dentre essa satisfação está a sexualidade. Todo ser humano necessita viver sua sexualidade. Vivenciar-la é dar sentido ao corpo, a mente e as relações que se estabelecem ao longo do desenvolvimento. Em sua historia de vida a sexualidade traz marcas em cada fase do desenvolvimento - a infância, a adolescência a vida adulta e a velhice. Em todas estas fases a ela acompanha o indivíduo e dá o ritmo de satisfação e de convivência. É notório que qualquer alteração no corpo e na vida emocional refletirá diretamente na vivência da sexualidade, pois tudo está associado na completude da existência humana. Existem múltiplas ocorrências ao longo da vida que podem alterar a sexualidade de uma pessoa, porém aqui, irei me ater apenas ao câncer de mama e suas implicações na sexualidade de quem vivencia tal situação. Pois, os seios são de suma importância na vivência da sexualidade das mulheres e também dos homens.
A mastectomia (retirada total ou parcial do seio) é uma das formas de se lidar com o câncer de mama. Sem essa parte essencialmente feminina do corpo, a mulher mastectomizada passa a acarretar disfunções psicológicas e sexuais.
O trabalho de psicoterapia de grupo e de grupos de apoio vem como um auxilio importantíssimo a essas mulheres. Em grupo elas encontram a oportunidade de conhecer as dificuldades umas das outras, assim podendo se ajudar e ter como apoio a cumplicidade que se estabelece nesses grupos.
A possibilidade de entrevistar e vivenciar as sessões de grupo possibilitou compreender não somente algumas faces da realidade das mulheres mastectomizadas, como também as formas adotadas por elas para enfrentar a doença, assim como os modos de expressar a sua sexualidade. É importante destacar que cada mulher reage a cirurgia conforme algumas variáveis que dizem respeito à sua história de vida, ao contexto social e familiar. As dificuldades encontradas pelas mulheres para se adequarem a uma nova situação, a perda da mama, veio a comprometer de uma certa forma todos os âmbitos de suas vidas. As alterações do próprio corpo implicam também em transformações afetivas, refletidas na forma de como as mulheres percebem a si mesmas e na forma de vivenciarem seu cotidiano. O processo de (re)adequação da sexualidade a esse novo referencial de corpo ocorre lentamente. A oportunidade de expressar espontaneamente suas dificuldades e participar do grupo com mulheres que passam por situações semelhantes ajuda muito na elaboração dessa nova fase e nova sexualidade a ser descoberta.
Abraços
Micheli