sexta-feira, 18 de março de 2011

Inevitáveis Gafes

De repente, sem a menor chance de controle, as palavras saltam de nossa boca e quando nos damos conta já dissemos aquilo, que no momento seguinte nos arrependemos. É o lapso, o “fora”, a palavra que parece escapar – mesmo que tentemos evitar. Isso geralmente acontece em uma situação constrangedora, das quais ninguém está livre. Talvez por culpa da famosa Lei de Murphy: “Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará”.
Segundo o psicólogo social Daniel Wegner, da Universidade de Harvard, que estuda esses casos a mais de 20 anos, pessoas que tem tendência a ansiedade, depressão ou timidez são os grupos que mais levam a sério esses lapsos. Por isso, sofrem mais com eles, já que costumam ficar constrangidos e desconfortáveis em grupos que não lhe forneçam segurança.
O criador da psicanálise, Sigmund Freud, havia percebido isso em suas pacientes e nomeou o fenômeno de genville (ação executada contra a própria vontade). Na sua grande maioria mulheres recatadas do século XX, as histéricas de Freud tinham muito medo de fazer comentários sem propósitos ou incondizentes com o meio social em que viviam. E quando isso eventualmente ocorria, o deslize era visto por elas como algo realmente grave e assumia sérias proporções em seu psiquismo. E, curiosamente, quanto mais tinham medo de cometer uma gafe, mais isso acontecia.
Esses erros irônicos se produzem assim que os conteúdos reprimidos fogem do nosso controle. Mesmo que o recalque (impulso ou desejo expulso do consciente e escondido no inconsciente) seja uma estratégia eficaz, pode causar lapsos, pois exigem muita atenção e investimento de recursos cognitivos. É como se nos pedem para não pensar em um urso branco, automaticamente é a primeira coisa que nos vem à mente. Sim, é inevitável! Não temos controle sobre nossos pensamentos.
As pessoas mais emotivas parecem ser as que menos suportam cometer gafes. Esse temor, pode explicar em parte, porque os fóbicos sociais se isolam. Para essas pessoas, possíveis erros tornam-se uma ameaça constante. Aquele que busca se liberar de problemas emocionais recalcando pensamentos negativos entra frequentemente em um circulo vicioso: tenta lutar contra o pensamento, mas por meio de um mecanismo parecido como o do urso branco, acaba por se concentrar naquilo que gostaria de esquecer.
Como se proteger desse fenômeno? Uma recomendação bem simples: aprender a aceitar os pensamentos desagradáveis. Evitar a evitação!
Nos casos mais graves, nos quais a pessoa se sente atormentada por pensamentos intrusos, a análise diária das próprias preocupações, incluindo tudo aquilo que causa inquietação e se gostaria de reprimir. Uma confrontação dos pensamentos reprimidos costuma ter efeitos positivos na vida cotidiana e na saúde psíquica. Registrar por escrito seus tabus pessoais, aquilo que teme ou lhe causa vergonha. Segundo Pennebaker, da Universidade do Texas, esse exercício pode vir a reforçar o sistema imunológico, já que viria a causar menos estresse, e parte da energia psíquica despendida na repressão de certos conteúdos poderia ser empregada de maneira mais saudável.
Encontrar distrações que não aumentem o estresse, buscar tudo aquilo que interessa e não cria uma sobrecarga emocional, representa uma boa ocasião de se liberar do temor de cometer gafes. Para algumas pessoas mais rígidas consigo mesmas, pode ser muito tranquilizador tomar consciência de que esse tipo de incidente é simplesmente normal. Se parece difícil se conscientizar disso sozinho, busque conversar com amigos e familiares sobre situações constrangedoras, com certeza ouvirá historias engraçadissimas. Já se aquilo que seria apenas motivo de uma boa gargalhada ou um leve mal-estar, se tornar razão para se atormentar, parece ser a hora de procurar um profissional e de empenhar-se para tornar a vida um pouco mais leve.

Micheli Krayevski
chelykrayevski@gmail.com