quinta-feira, 24 de março de 2011

Amor Eterno?

Sim, pesquisas neurocientíficas recentes mostram que é possível sim se sentir encantado pela mesma pessoa por décadas. Imaginar-se vivendo 10, 20... 50 anos com a mesma pessoa e ainda continuar sentindo prazer em sua companhia e conforto em seus braços, para muitos, pode parecer uma proposta muito interessante. Se pensar em viver dessa forma lhe traz uma sensação bem estar, não agradeça ao seu coração. Agradeça seu cérebro! Já se essa idéia não lhe agrada a responsabilidade também é dele também.
Diferente de muitos animais, que procuram um par somente para o acasalamento e imediatamente depois cada um segue seu caminho. Na raça humana (assim como em outros seres vivos que vivem em sociedade) os laços afetivos e amorosos são muito importantes, pois na maioria das vezes, é através deles que buscamos a sobrevivência de nossa espécie.
Gostamos tanto de formar pares que gastamos muita energia, tempo e esforço para convencer um belo modelo de que somos a pessoa mais sensacional, interessante e desejável, entre as outras 6 bilhões de pessoas existentes na Terra. Isso porque, segundo a pesquisadora Suzana Herculano-Houzel, nosso sistema cerebral é capaz de atribuir um incrível valor positivo à companhia alheia. A função do sistema de recompensa (conjunto de estruturas do cérebro especializado em detectar quando algo interessante acontece) é premiar-nos com uma sensação física inconfundível de prazer e satisfação e ainda associar esse prazer com o que nos levou a ele – pode ser uma ação, situação, objeto ou... alguém.
Conforme esse sistema é acionado, cada vez que tem uma sensação de prazer na companhia dessa pessoa, um valor positivo que atribuímos a ela é reforçado. Com isso, devemos ficar na torcida para que a mesma coisa esteja acontecendo no cérebro dessa outra pessoa. Que ela esteja associando um valor cada vez mais positivos a nossa companhia. Isso é o que fazemos no período de namoro. As conversas sempre são interessantes, passeios agradáveis, boa musica, boa comida e carinho oferecem prazeres que vão sendo associados à relação. Se acrescentar o sexo, fica melhor ainda: o prazer do orgasmo funciona como uma cola extraordinária para o sistema de recompensa, que atribuirá satisfação incrível àquela pessoa específica (mas é verdade que isso não funciona tão bem em alguns cérebros...).
Com a repetição, o sistema de recompensa vai aprendendo a ficar ativado não apenas em resposta a companhia, mas também em antecipação à presença daquela pessoa, que está ficando cada vez mais importante e essencial. Essa antecipação é a motivação, para que alteremos compromissos ou fiquemos acordados madrugada adentro. Essa é a paixão, sentimento que faz com que se faça tudo em nome de mais tempo na presença do ser amado.
Uma questão complicada é: quando isso vira amor? Operacionalmente falando é quando passa o ardor da paixão e descobre-se que pensar em uma vida sem seu companheiro causa angustia profunda e sincera. O amor é esse laço que faz o cérebro acreditar que não existe felicidade sem a presença do outro, e ao fazer seu companheiro feliz dá um novo sentido à vida.
Se será para sempre, depende de vários fatores – muitos deles completamente fora do nosso controle. A boa noticia que a neurociência nos dá é que os relacionamentos não estão necessariamente fadados ao esgotamento, pois é sim possível, se sentir apaixonado por muitas e muitas décadas pela mesma pessoa. E não é o acaso ou a sorte, você tem grande responsabilidade e deve sempre fazer sua parte. É uma questão de continuar inventando e descobrindo novos prazeres a dois. Tudo que for possível para manter o sistema de recompensa do outro interessado em você...

Micheli Krayevski
chelykrayevski@gmail.com