quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Serial Killer - do Cinema para a Vida Real


O cinema recorre constantemente a personagens psicopatas para montar tramas densas e enigmáticas. Quem não se lembra do massacre na escola americana de Columbine, quando dois adolescentes metralharam colegas e professores. Essa tragédia foi traduzida para a arte do cinema sob o nome de Elefante. O filme mostra a vida cotidiana dos alunos da escola que se tornou palco de uma das mais sangrentas páginas dos Estados Unidos. Assistimos a dois amigos que compram uma metralhadora e resolvem acertar contas com as pessoas que tinham desavenças. Ainda falando de jovens, o filme Anjo Malvado, estrelado por Macaulay Culkin, mostra um garoto de 12 anos que começa a praticar atos de maldade gratuita após a morte de sua mãe. A frieza e o grau das maldades praticadas pela criança assustam e impressionam. Como não falar então do clássico filme Psicose, que apresenta a história de uma mulher que se hospeda em um hotel de beira de estrada e conhece o misterioso dono que, na verdade, é um psicótico esquizofrênico. 

Contudo, o prêmio de maior serial killer da história do cinema é de: Hannibal Lecter. Ele protagoniza uma série de filmes: iniciada por Silêncio dos Inocentes, seguido de Hannibal, Dragão Vermelho e o mais recente Hannibal – A origem do mal. Outro é Jigsaw, um homem por detrás do boneco bizarro do sangrento filme Jogos Mortais, onde pessoas são obrigadas a realizar tarefas que envolvem raciocínio, muita dor e escolhas difíceis para sobreviverem. Um filme de tanto sucesso que já está em sua sexta continuação, sempre trazendo pontos da história do serial killer e mostrando suas motivações para os assassinatos em série. Ainda, a incrível interpretação de Kevin Costner em Instinto Secreto. Um empresário bem sucedido que em seu tempo livre mata desconhecidos, incentivado por seu alter ego.
Quando nos deparamos com estes assassinos, fabricantes de mortes aparentemente sem sentido, de alguma maneira escancaram nossa vulnerabilidade no mundo. Por isso, é natural que busquemos explicações científicas, filosóficas ou psíquicas, na ânsia de, ao menos, ordenar e padronizar os motivos de tais atos.
O termo “serial killer” foi criado pelo criminalista norte-americano Robert Ressler, ele dividiu esses criminosos em três categorias: a primeira seria daqueles que sofrem de psicoses e apresentam sintomas de esquizofrenia, como escutar vozes e sofrer de alucinações, que a partir daí partiriam para a execução dos crimes. Em outro grupo aqueles que sentem um prazer sádico em planejar de maneira metódica o que antecede e o que sucede à morte de suas vítimas. Na terceira categoria estariam os criminosos que apresentam de maneira simultânea as duas características descritas nos grupos anteriores. O psiquiatra James de Burguer, acrescentou mais uma categoria à lista de Ressler: os que acreditam que estão livrando a sociedade de algum grupo que representa um desvio de conduta moral, como prostitutas ou homossexuais, ou que personifique alguma ameaça à comunidade. Um bom exemplo é o seriado Dexter, ele mata os criminosos procurados pela polícia.
De acordo com o psiquiatra Kurt Schneider, que cunhou o termo “psicopata” nos anos 1940, estes indivíduos teriam como traço mais marcante o uso praticamente exclusivo de suas faculdades racionais em detrimento da afetividade, isto é, um sujeito que não possui a mínima empatia por outras pessoas, as quais serão sempre usadas para que ele obtenha poder, status, diversão, prazer, etc. O psicopata tem de anormal um distúrbio na vontade, ele tem um ‘querer’ patológico. O sentimento é todo voltado para si mesmo, por isso não há culpa. Se você perguntar para o sujeito que tenha cometido algum crime se está arrependido do que fez, ele vai dizer que sim, pois está preso. No entanto, não demonstrará nenhuma piedade para com a vítima.
É importante ressaltar que, apesar da palavra “psicopata” ser comumente relacionada com os assassinos seriais, nem todos podem ser classificados como tal, porque a grande maioria dos psicopatas não apresenta impulsos violentos.
Ainda que ocorram em todo o mundo, o país de maior ocorrência destes eventos aterrorizantes são os Estados Unidos. No Brasil, os mais famosos são o Maníaco do Parque, Bandido da Luz Vermelha e Pedrinho Matador.
Mas qual fator seria o predominante para desencadear a formação de uma personalidade doentia, capaz de cometer crimes hediondos?
Todos os processos são endógenos. As causas biológicas podem ser inúmeras. Já foi pesquisado que algum comprometimento do lobo frontal, parental, meningite, anóxia no parto, entre outros diversos, podem predispor o sujeito a cometer crimes.
Fatores genéticos também podem ser levados em conta nesta equação. Pode ser que algumas pessoas nasçam com a propensão de se tornarem criminosas. Porém, é obvio que não é porque a pessoa possui uma disfunção endógena que vai trilhar este caminho, assim como apenas uma vivência dolorosa no passado não tem força para criar indivíduos capazes de praticar esses crimes monstruosos.
Convivemos com a hipótese mais aceita atualmente entre especialistas: o que faz de uma pessoa um verdadeiro criminoso, capaz de atos hediondos, são inúmeros fatores que ocorrem simultaneamente. Estes processos devem ser analisados a partir de uma ótica biopsicossocial. Se tem uma predisposição biológica, talvez o fato de contar com aspectos psíquicos, afetivos, sociais e culturais positivos, não seja suficiente para conter aquela pulsão. Por outro lado, às vezes, a predisposição biológica até é pequena e, no entanto, os processos afetivos e sociais são tão negativos que o sujeito parte para o crime. Há ainda, o fato facilmente observável de que mesmo que criados em uma comunidade violenta e sem o afeto e os cuidados de uma família, a maioria dos indivíduos sem predisposição biológica não se envolvem com crimes.
Apesar das inúmeras discussões suscitadas desde o final do seculo XIX, muitos psiquiatras veem com um olhar pessimista a tentativa de inclusão social de criminosos psicopatas. Não há tratamento eficaz para tal patologia. Existem inúmeros casos graves de erro judiciário, nos quais o psicopata é condenado como preso comum. A tendência, quando sair da reclusão, é a repetição da conduta.

Micheli Krayevski
chelykrayevski@gmail.com