terça-feira, 31 de maio de 2011

Homens e mulheres são iguais?

Deixando de lado as distinções corporais, homens e mulheres são iguais?
A maior parte dos anos 60 e 70 passamos tentando nos convencer de que sim. Nesse período, vigorou o paradigma de que todas as diferenças comportamentais entre os sexos eram vindos da influência cultural e da educação.
A mais famosa vítima da teoria da neutralidade dos gêneros foi David Reimer. Nascido em 1965, era um garoto saudável, mas depois que teve seu pênis destruído numa operação mal sucedida para corrigir uma fimose, seus pais procuraram o então papa dos estudos sobre sexualidade da época. John Money os convenceu de que o melhor que poderiam fazer pelo menino era submetê-lo a uma cirurgia para extração dos testículos e educá-lo como uma mulher. Foi um desastre! Apesar dos estímulos sociais e das injeções de hormônios femininos, ele jamais se sentiu como uma menina. Aos 13 anos, já sofria de depressão severa, inclusive com ideações suicidas. Aos 14, depois que seus pais lhe revelaram sua verdadeira história, ele decidiu viver como homem. Trocou os hormônios femininos por masculinos, fez uma mastectomia (retirada dos seios) e uma faloplastia (construção de pênis). Casou-se. Porem, a depressão nunca o abandonou. Suicidou-se em 2004, aos 39 anos.
O caso só ficou conhecido porque, em 1977, o sexologista Milton Diamond o convenceu a tornar pública sua história, para evitar que outras crianças fossem submetidas ao mesmo tratamento. Os detalhes estão no livro "As Nature Made Him: The Boy Who Was Raised as a Girl" (Como a natureza o fez: o menino que foi criado como menina).
Pela teoria da neutralidade, meninos brincam com carrinhos e de lutas e meninas optam por bonecas apenas porque são estimulados por seus pais a fazê-lo. Hoje, sabemos que essas preferências são inatas e têm base biológica. Uma elegante prova disso é que chimpanzés selvagens brincam com o mesmo pedaço de pau, o macho o usa como clava e as fêmeas o carregam para todos os lados como se fossem filhotes.
A desmistificação da teoria vai muito além das escolhas de brinquedos. Após algumas décadas de pesquisas mais apuradas que as de Money, acumulam-se evidências de que as diferenças de gênero afetam também a cognição, as preferências e a própria noção de propósito da vida. Isso, evidentemente, tem implicações profundas sobre a educação, o mercado de trabalho, as relações e a forma de ver a vida.
Parte da dificuldade está no tabu que ainda cerca o tema, mesmo nos meios acadêmicos. Uma das razões para a demissão de Larry Summers da reitoria de Harvard, em 2006, foi ele ter sugerido que o baixo número de mulheres em certos ramos da ciência poderia dever-se a diferenças naturais entre os sexos.
Mas, gostemos ou não, hoje sabemos que os níveis de exposição pré-natal a hormônios sexuais afetam a forma como o cérebro de meninos e meninas se organiza. Algumas características tipicamente masculinas relevantes para a educação são a propensão a correr riscos, que abarca a agressividade e o gosto pela competição, e a facilidade para relacionar-se com objetos e sistemas. Já as meninas se destacam pela maior disciplina e a capacidade de empatia, que inclui o forte interesse por pessoas.
Embora não tenham sido detectadas diferenças cognitivas que tornem as mulheres menos proficientes em ciências e matemáticas, elas quando podem preferem se dedicar a profissões que lidem com pessoas (em oposição a objetos e sistemas). É por isso que hoje quase dominam as carreiras como medicina e magistério, enquanto permanecem minoritárias na engenharia e na física, para não mencionar as oficinas mecânicas.
Vale aqui o alerta de que esses exemplos são apenas médias, as quais dizem muito pouco a respeito de indivíduos reais. É bom lembrar de que, na média, a humanidade tem um testículo e um seio.

Micheli Krayevski
chelykrayevski@gmail.com