Vou aproveitar o meu momento vivido e
trazer algumas reflexões que tenho feito comigo mesma e com alguns pacientes
sobre um dos conceitos winnicottianos que mais admiro: “a capacidade de estar
só”. Para isso, recomendo o texto de Winnicott “A capacidade para estar
só”, escrito em 1957, lido em uma reunião da Sociedade Britânica de Psicanálise
em julho daquele ano e publicado em seu livro ”O ambiente e os processos
de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional”. No texto,
Winnicott nos diz que a capacidade de "estar só" é um fenômeno
altamente sofisticado. Justamente por exigir um alto nível de maturação
emocional.
Tá, mas como assim? Como defender um
conceito desses em uma época onde muitos parecem lutar desesperadamente para
escapar de qualquer sentimento de solidão? Afinal, já notou que quando você
chega em casa e não tem ninguém, mais do que depressa liga a TV ou põe uma
música para tocar? No ápice da privacidade que buscamos ao utilizar o banheiro,
o celular passa a ser nossa grande companhia. Nas redes sociais buscamos
incansavelmente esse alguém que nos olha, e expressa esse olhar com os todos likes
possíveis.
Podemos até pensar que quem está em
recolhimento, ou em silêncio, ou isolado está se utilizando de alguma defesa
contra um sentimento de perseguição, tristeza profunda ou um medo. O
"estar só" nos dias atuais muitas vezes é encarado como
"depressão", "introversão", enfim, como algo patológico,
numa completa inversão de significados.
Assim, não nos deixa perceber que, em
muitas vezes, ficar só é uma capacidade a ser conquistada. Nesse sentido,
"estar só" não é o mesmo que "sentir-se sozinho" ou
"estar isolado" pois, como Winnicott nos diz: a pessoa pode
estar num confinamento solitário e, ainda assim não ser capaz de ficar só. Ou,
pelo contrário, pode estar absolutamente sozinha e não sentir-se isolada da
vida. Assim, "estar só" está ligado a uma capacidade de apreciar esse
fenômeno sofisticado. Sentir-se assim, é uma conquista da pessoa, algo que para
mim se assemelha a liberdade.
Existe um paradoxo aí? Sim, existe! Pois
se pode "estar só" mesmo na presença de alguém. Aquela já conhecida
metáfora de se sentir sozinho em meio a multidão. Tudo isto esta sustentado
nas primeiras experiências do bebê com sua mãe. Imagine um bebê sendo
alimentado e a mãe conferindo suas redes social. Este deveria ser o momento em
que o olhar da mãe o estaria desenvolvendo a capacidade de se tornar sujeito.
Com a ausência desse olhar, o que sobra é a solidão. Já uma “mãe
suficientemente boa” (também conceito de Winnicott) com a segurança de seu
olhar, desenvolve a capacidade de manter-se ao lado de seu filho, mesmo que ela
não esteja ali. Constitui dentro dele a segurança da presença. É este processo
que permite o desenvolvimento da capacidade de estar só. O bebê a mantém
presente dentro se si, interiorizada. Uma espécie de solidão compartilhada.
Este processo é uma conquista porque revela nossa maior integração na
personalidade, afastando mecanismos de defesa primitivos, que são carregados de
ansiedade, para mecanismos mais refinados e maduros. É neste momento que,
através de um ambiente suficientemente bom que apresenta objetos bons, que
experimentamos a confiança, e podemos experimentar e sobreviver as seguidas
ausências da própria mãe, nos tornando capazes de descansar/relaxar, mesmo na
sua ausência.
O exemplo mais clássico da “capacidade
de estar só” é o bebê que acorda depois de um sono tranquilo e aproveita esse
momento no berço para brincar com suas mãozinhas, assistir o dançar do seu
móbile... somente quando encontrar algum tipo de desconforto – como a fome, irá
chorar e chamar pelo cuidador. Este é um bebê maduro. Já um bebê ansioso, ao se
perceber sozinho no berço, se desespera e chora para que um alguém venha ao seu
socorro.
É a partir de gratificações
satisfatórias nesta fase inicial que a "confiança" surge como aquilo
que nos permite ter capacidade de estar só, na presença ou ausência do outro,
pois, de fato, esse outro que nos inspira confiança na vida está interiorizado
em nós, como uma experiência acolhedora.
Então, podemos dizer, segundo Winnicott, que, esta nossa capacidade de estar só se desenvolve bem lá atrás, nas primeiras experiências do bebê, quando seu frágil ego ainda é compensado pelo da mãe. Será, portanto, a capacidade desta em oferecer ao bebê a confiança no existir e na vida, que vai possibilitar a introjeção de um símbolo da própria mãe, carregando-a consigo como representação da confiança que tem em si mesmo e no mundo.
Então, podemos dizer, segundo Winnicott, que, esta nossa capacidade de estar só se desenvolve bem lá atrás, nas primeiras experiências do bebê, quando seu frágil ego ainda é compensado pelo da mãe. Será, portanto, a capacidade desta em oferecer ao bebê a confiança no existir e na vida, que vai possibilitar a introjeção de um símbolo da própria mãe, carregando-a consigo como representação da confiança que tem em si mesmo e no mundo.
Qual a situação contrária de tudo isto?
Uma vida pouco autêntica, falsa em muitos aspectos, e potencialmente
patológica, na qual não conseguimos nos sentir seguros, principalmente quando
nos vemos sozinhos. Os nossos comportamentos revelam a incapacidade de estar
só. Quando pensamos nas necessidades que muitos têm, hoje em dia, de
conduzir suas vidas a partir de estímulos externos permanentes. Encontrando
somente relacionamentos frustrados, tentativas sexuais de encontrar no outro
uma plenitude inalcançável e até mesmo o uso de substancias psicoativas
(álcool, drogas e medicamentos). Essa necessidade frenética de estar em
movimento, de estar sob estímulo, de estar sob barulho intenso, pode estar
revelando uma incapacidade de estar só, um recolhimento necessário para a
própria integração de vários aspectos de nossa personalidade.
Poder estar só é uma conquista, uma
capacidade, algo que revela que o amadurecimento pôde continuar a partir de uma
confiança introjetada com as experiências de gratificação satisfatórias em
nosso ambiente inicial. É sobre isto que precisamos pensar quando estamos diante
de comportamentos tão submissos à estímulos da realidade ou de isolamento e
retraimento.
A "confiança", conquistada a
partir das experiências satisfatórias que tivemos em nosso ambiente inicial, é
a base para o desenvolvimento de nossa capacidade de "estar só", pois
sempre teremos ao nosso lado a segurança trazida por aqueles momentos. Isto nos
tornará mais confiantes em si mesmo e na relação com as pessoas e a realidade.
Enfim, se somos capazes de estar só é
porque um dia pudemos experimentar segurança, sustentação e amor, e com isso
mantemos a confiança no presente e no futuro, em nós mesmos e no mundo!
Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga
Adorei o texto e me identifico com este trecho... O "estar só" nos dias atuais muitas vezes é encarado como "depressão", "introversão", enfim, como algo patológico, numa completa inversão de significados..
ResponderExcluirMuito bom..
Muinto legal acho que esse texto me fez abrir um pouco mais a mente.estar so acho que nao e tao ruin mais importante para algumas pessoas como eu
ResponderExcluirMuinto legal acho que esse texto me fez abrir um pouco mais a mente.estar so acho que nao e tao ruin mais importante para algumas pessoas como eu
ResponderExcluirMuinto legal acho que esse texto me fez abrir um pouco mais a mente.estar so acho que nao e tao ruin mais importante para algumas pessoas como eu
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