Desde que me casei, meu marido e eu nos
mudamos de casa algumas vezes. E essas mudanças me trouxeram um aprendizado
intenso. O primeiro deles, e que foi crucial, foi de que: Quanto mais coisas
acumuladas eu tiver, muito mais trabalho irei ter para achar um novo lugar pra
tudo aquilo no lugar novo. A cada mudança eu me desfazia de mais coisas inúteis
que eu pensava que um dia eu iria precisar. E isso deixou minhas mudanças, e eu
também, mais leve.
Outra situação comum às mudanças é o
desespero que gera dentro de mim em ver todas as coisas encaixotadas, todos os
móveis fora do lugar e eu precisando arrumar tudo num novo lugar. A vontade que
eu tinha era de sentar e chorar. Aquele caos externo, me gerava também um caos
interno. Mudança é sinônimo de estresse. Eu saí da minha zona de conforto e de
segurança, de um lugar conhecido e fui rumo ao desconhecido. Pensando nisso,
percebi que as mudanças de casa, são iguais as mudanças de precisamos fazer em
nossas vidas.
Por que mudamos?
Roberto Shinyashiki, no livro “Amar pode
dar certo” disse que as pessoas mudam por uma grande dor, por um grande amor ou
por um processo terapêutico. Pode ser... Uma vez em um curso ouvi a psicóloga
Priscila Martins contar uma história que sempre me recordo: Um rapaz chega em
determinado lugar e se depara com um cachorro sentado no chão uivando, ele
questiona o dono do cachorro sobre o que está acontecendo e o dono lhe conta
que o cachorro está sentado em cima de um prego. Sem entender direito, o rapaz
pergunta o por que dele não sair dali. O dono do cachorro lhe responde: Dói o
suficiente para ele reclamar, mas não para se mexer. É claro que o lugar de
conforto tem um desconforto, muitas vezes é um lugar de dor, mas nem sempre o
suficiente para sair.
Este lugar está vinculado à forma como
eu me entendo como gente, o meu lugar no mundo, o meu sistema familiar, o meu
papel social. Esse é um lugar que me dá sensação de pertencimento desde a minha
infância. Então é um lugar que é possível pra mim. Por isso não podemos julgar
aquela mulher que sofre agressões do marido e não se separa; Aquele que sofre e
faz a família sofrer com o uso de drogas e não consegue parar; Quem tem prejuízos
para a saúde e não consegue emagrecer. Olhamos pra essas pessoas (e pra nós
mesmos) e nos perguntamos: Como ele suporta ficar sentado nesse prego?
Não posso julgar! Porque para sair desse
lugar é preciso muita coragem. Também é preciso recursos para sair desse lugar.
Se você for pensar nas mudanças que já teve em sua vida, irá constatar que
sempre precisou da ajuda de outros, e de muitos recursos internos e externos para
sair de onde estava. Para sair de um relacionamento, de um emprego, de um corpo,
de uma doença, precisamos olhar para a dor e para o que está provocando esta
dor, é preciso um caminho interno para enfrentá-la. Olhar para tudo que evitamos,
as possibilidades que excluimos e tudo o que teremos que enfrentar.
Quando estou em um ponto, preciso de uma
jornada heróica para chegar do outro lado. O detalhe: não sabemos onde essa
jornada irá nos levar, se será melhor ou não. Na música do Humberto Gessinger
ele canta “Quem constrói a ponte, não conhece o lado de lá”.
Essa não é uma jornada em linha reta,
nela encontraremos outros desafios, vamos ser testados, nos expor a perigos, pensar
em desistir, nos machucar, vamos encontrar nossos limites, precisar parar para
descansar, levantar e continuar caminhando... Até chegar do outro lado.
Só que esse lugar, quando estou na
jornada, sendo testado, passando por situações dolorosas, olhando para os
limites, as minhas sombras, enfrentando os meus medos, o outro lado da ponte é
desconhecido. Eu sai do meu lugar confortável, onde eu tinha a minha identidade
e fui para um lugar escuro. Ou seja, eu ainda não sei se será bom.
Tem um ditado famoso que diz que a
felicidade está no caminho e não na chegada. Assim, a chance de eu ter
enfrentado meus sentimentos, reconhecido meus limites, superado meus bloqueios
me coloca numa posição de quem aprendeu a carregar menos bagagem e a ter mais
forças e mais recursos internos. Me dá uma flexibilidade maior e coragem para
qualquer nova mudança que eu precise enfrentar. O meu outro lado é expansível.
Ele tem o tamanho que eu criar.
O caminho nos espera. Coragem!
Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga
47 99193-6553
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