terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Consumismo Infantil



Com a chegada do natal e das confraternizações de final de ano, temos em nossa cultura o hábito de presentearmos uns aos outros, principalmente as crianças com a ideia de Papai Noel. Assim aprendem que natal é sinônimo presentes. De modo que não são incomuns as listas quilométricas de solicitação de presentes – as quais os pais acabam tendo que driblar as exigências dos filhos.
Resultado de imagem para saco do papai noelAgora é o tempo propício para refletir sobre como o consumismo na infância e como tem permeado nossa cultura e dominado um cenário onde o “ter” é mais importante do que o “ser”.  As crianças são vistas pela mídia como potentes consumidores e sido alvo de propagandas avassaladoras na apreensão do desejo. É construída a ideia de que criança feliz é aquela que tem muitos brinquedos; pais bons são os que conseguem dar tudo o que os seus filhos querem, mesmo que à custa de esgotamento no trabalho e sacrifícios na vida financeira da família.
Que lugar o consumismo ocupa nas famílias contemporâneas? Será que muitas vezes a compra de brinquedos serve como um "tapa buraco" emocional? Suprir ausências? Ou única e precária forma que sabemos demonstrar afeto?
É possível perceber que grande parcela das crianças já tem brinquedos demais, cômodos abarrotados de objetos de entretenimento que já não são usados há muito tempo. E ter brinquedos não significa brincar. A propósito, brinquedo em excesso pode significar falta de espaço para brincar. Paradoxalmente, em meio a tantos entretenimentos, vemos também uma geração de crianças prostradas, isoladas, viciadas em seus eletrônicos e desmotivadas para brincar livremente, beirando a apatia e ao tédio.
Na contramão da tendência atual, o livre brincar é uma atividade bastante desejável para o bom desenvolvimento da criança. Aparentemente simples e natural, não precisa de brinquedos estruturados, insubstituíveis e caros para sua execução. É livre de regras, imposições e estímulos intencionalmente educativos. Qualquer objeto que lhe capture a capacidade imaginativa e a espontaneidade é o suficiente para uma experiência extremamente enriquecedora e prazerosa.
Outro ponto importante é lembrar que brinquedo nunca é apenas um brinquedo, mas carrega em si uma série de construção social e emocional, pois ensina à criança aquilo que a sociedade quer que seja aprendido – valores, regras e condicionamentos. Temos como forte exemplo a aquisição de brinquedos que reforçam o próprio consumo, de pertencimento a determinado grupo e que expressam as polêmicas relações sexistas.
No fundo, os pequenos querem e precisam bem mais de momentos de qualidade com a família e os amigos, onde eles recebam atenção e interação e não necessariamente brinquedos. O melhor presente, em qualquer data do ano é sempre a presença dos pais e demais representantes de amor e vínculo.
Trabalhar com a criança valores que a protejam de uma visão consumista e depredatória do mundo é uma importante missão ligada à educação doméstica e escolar. No entanto, o consumismo infantil vai muito além destas esferas, sendo também um problema de ordem ético-econômica, social e ambiental, do qual somos todos responsáveis e potentes agentes transformadores.
Assim, nós adultos, mesmo imersos nesse contexto cultural desfavorável, temos a capacidade de reflexão e consciência crítica para que com responsabilidade possamos ensinar as crianças a diferenciar NECESSIDADE de DESEJO, participar com elas das feiras de troca, incentivar a doação de brinquedos, falar sobre as desigualdades sociais, as condições de trabalho das pessoas que fabricam esses brinquedos e as limitações de renda da própria família. Esses podem e devem ser assuntos tratados com crianças, desde que obviamente adequando-se à compreensão de cada idade.
É através do cotidiano que se faz a diferença, conversando a cada oportunidade sobre o acúmulo de objetos e o desapego. E assim construir nelas a noção de que as pessoas são mais importantes do que as coisas e muni-las com um modo de vida mais sustentável, maduro e menos vulnerável às amargas exigências do capital para serem felizes.

Micheli Krayevski Eckel
Psicologa CRP 12/8587

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