A Síndrome do Pânico é um transtorno psicológico marcado pela ocorrência de inesperados momentos de pânico e por uma espera ansiosa de ter novas crises. As crises de pânico consistem em períodos de intensa ansiedade, geralmente com início súbito e acompanhados por uma sensação de catástrofe iminente. A frequência das crises altera de pessoa para pessoa e sua duração é variável, geralmente de alguns minutos.
"Quando começa eu já espero o pior, "aquilo" é muito maior do que eu, o caos toma conta de mim, é como uma tempestade que passa e deixa vários estragos... Eu sempre fico com muito medo de que aquilo ocorra de novo... minha vida virou um inferno”.
"Depois da primeira vez eu comecei a temer que acontecesse de novo, cada coisa diferente que eu sentia e eu já esperava... ficava com medo, não conseguia mais me concentrar em nada... deixei de sair de casa, eu não conseguia nem ir trabalhar".
Com estes relatos, é possível perceber o grau de sofrimento e impotência que estas pessoas sentem ao vivenciar as crises da tão famosa síndrome do pânico.
O corpo reage como se estivesse frente a um perigo, porém não há nada visível que possa justificar esta reação. A pessoa sente ansiedade frente às sensações de seu próprio corpo, há um estranhamento e um grande susto em relação ao que é sentido dentro da pele – a ameaça vem de dentro. É comum a pessoa passar a restringir a sua vida a um mínimo, limitando toda forma de estimulação para tentar evitar que "aquilo” volte a ocorrer. Assim, começa a evitar sair de casa, ir a lugares específicos, evitar algumas atividades, priva-se de muitas experiências, o que passa a comprometer a sua vida pessoal, profissional e social.
A ansiedade é uma reação emocional natural que ocorre quando nos sentimos vulneráveis e na expectativa de um perigo. Quando a resposta emocional de ansiedade é muito intensa e repentina temos uma crise de pânico, que na verdade é um ataque agudo de ansiedade. Numa crise de pânico sofremos muito, achando que algo desastroso pode nos acontecer a qualquer momento. Durante a crise vem a mente uma série de interpretações negativas sobre o que está ocorrendo, sendo muito comuns pensamentos catastróficos, como: de que está perdendo o controle, que vai desmaiar, que está enlouquecendo ou que vai morrer.
No geral, as crises de pânico apresentam quatro ou mais dos seguintes sintomas físicos: Taquicardia, falta de ar, dor ou desconforto no peito, formigamento, tontura, tremores, náusea ou desconforto abdominal, embaçamento da visão, boca seca, dificuldade de engolir, sudorese, ondas de calor ou frio, sensação de irrealidade, despersonalização, sensação de iminência de morte.
Todos estamos sujeitos a ter uma eventual crise de pânico quando expostos a um estresse muito alto, quando inundados por emoções ou em situações que nos levam a um estado extremo de vulnerabilidade e desamparo. Os eventos podem ser de vários tipos como: separação, doença, morte de alguém próximo, vivências traumáticas, crises existenciais, crises profissionais, mudanças importantes na vida etc. Como aconteceu com o Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite. Esta é uma reação que faz parte do espectro normal de reações emocionais, apesar de pouco frequente e muito desconfortável.
O que caracteriza realmente a Síndrome do Pânico é que estas crises passam a se repetir. A partir de uma crise inicial a pessoa começa a apresentar crises repetidas, sentindo-se insegura, esperando ansiosamente por uma nova crise que pode ocorrer a qualquer momento. Há alguns fatores que levam uma pessoa a desenvolver este padrão repetitivo de crises que caracteriza a Síndrome do Pânico. Uma das razões é que geralmente as primeiras crises acabam sendo vividas como uma experiência traumática. Isso significa que ela fica registrada num circuito específico de "memória emocional" que passa a disparar a mesma reação automaticamente, sem a participação da consciência. Sempre que aparecem algumas reações parecidas no corpo inicia-se uma nova crise de pânico.
Passa a fazer constantes interpretações equivocadas e catastróficas de suas reações e sensações corporais, achando que vai ter um ataque cardíaco, que está doente, que vai desmaiar, que vai morrer, etc. É comum a pessoa viver ansiosamente o que poderia ser vivido com mais tranquilidade. Esta perda de discriminação da sensação interna o compromete seriamente, pois se sente ameaçado constantemente por suas próprias sensações corporais. O corpo passa a ser a maior fonte de ameaça. Perder a confiança no próprio corpo leva a uma experiência de extrema fragilidade.
Numa crise de pânico a pessoa reage frente aquilo que seu cérebro interpreta como um perigo. Não há um perigo real, apenas uma hiperativação do circuito do medo que dispara um alarme na presença de algumas reações corporais. A presença destes gatilhos corporais pode disparar ansiedade mesmo quando a pessoa não tem consciência deles.
Há algumas diretrizes importantes para o tratamento da Síndrome do Pânico:
1 - Etapa Educativa: compreender o que é o Pânico, assumindo a atitude certa para lidar com a ansiedade e as crises. Os sintomas do pânico são intoleráveis enquanto não compreendidos. A crise de pânico é um estado de intensa ansiedade, na qual o corpo da pessoa reage como se estivesse sob uma forte ameaça. Compreender este processo é fundamental para a sua superação. Nesta etapa aprende o que é a ansiedade, o que ocorre numa crise de pânico, seus sintomas e formas de tratamento. A compreensão do Transtorno Pânico e dos Princípios do Tratamento favorece uma atitude construtiva e participativa, assim como o estabelecimento de uma aliança terapêutica para se desenvolver um bom trabalho.
2 - Auto-gerenciamento: desenvolvendo a capacidade de controle da situação. A pessoa com pânico precisa desenvolver uma melhor de auto-regulação, aprendendo a influenciar seu estado emocional, regulando o nível de ansiedade, diminuindo assim o sentimento de vulnerabilidade e a incidência de novas crises.
Este processo é possível pelo aprendizado de técnicas de auto-gerenciamento, que incluem trabalhos respiratórios, técnicas de direcionamento da atenção, fortalecimento da capacidade de concentração, técnicas visuais variadas, técnicas de relaxamento etc.
3 - Aumentar a tolerância à excitação interna. A pessoa com pânico tende a interpretar as reações de seu corpo, que fazem parte do estado ansioso, como se fossem sinais catastróficos, indicadores de um possível perigo, como um desmaio, um ataque cardíaco iminente, sinal de perda de controle, etc. É necessário enfraquecer esta associação automática onde a presença de algumas sensações corporais disparam uma reação automática de ansiedade, a se inicia o processo que leva ao pânico.
4 - Desenvolver um "eu observador", permitindo diferenciar-se dos pensamentos ansiosos. Sob estado de ansiedade a pessoa é inundada de distorções cognitivas, com pensamentos que se projetam no futuro esperando pelo pior e interpretando as sensações em seu corpo como sinais de perigo iminente. Neste processo a pessoa aprende a observar e reconhecer seus padrões de pensamentos e suas expectativas catastróficas sem ser dominada por eles. Aprende a ancorar o ego no “eu que observa” e não no tumultuoso “eu que pensa”.
5 - Desenvolver a capacidade de regulação emocional através dos vínculos. Além da capacidade de auto-regulação é importante fortalecer a capacidade de se regular pelos vínculos, o que envolve desenvolver a capacidade de estabelecer e sustentar conexões profundas e vínculos de confiança. Este processo vai permitir que a pessoa supere o desamparo que a mantém vulnerável às crises de Pânico.Buscamos ajudar na reorganização dos padrões vinculares em direção a relações mais estáveis que possam permitir criar uma rede de vínculos e conexões mais previsíveis, essenciais para a proteção nos momentos de crise.
6 - Elaborar outros processos psicológicos atuantes. É importante mapear os fatores que estavam presentes quando a Síndrome do Pânico começou e que podem ter contribuído para a eclosão das crises. Neste contexto podem estar presentes ambientes e eventos estressantes, assim como crises existenciais, crises em relacionamentos, crises profissionais e transições, como mudanças de fases da vida, por exemplo. A desestabilização emocional trazida por estes eventos poderia produzir estados internos de fragilidade e vulnerabilidade, responsáveis pela eclosão das primeiras crises de pânico.
Os remédios podem ser recursos auxiliares importantes para o controle das crises de pânico, trabalhando conjuntamente com a psicoterapia para ajudar na superação da Síndrome do Pânico. Porém, há algumas ponderações sobre a sua utilização. Primeiro, é necessário ter claro que os remédios não ensinam a pessoa como ela própria pode influenciar seus estados internos e assim a superar o sentimento de impotência que o pânico traz. Não ensinam a compreender os sentimentos e experiências que desencadeiam as crises de pânico. E não ajudam a pessoa a perder o medo das reações de seu corpo e a ganhar uma compreensão mais profunda de seus sentimentos. Os remédios - quando utilizados - devem ser vistos como auxiliares do tratamento psicológico. Algumas pessoas optam por um tratamento conjugado de medicação e psicoterapia enquanto outras optam por tratar o pânico somente com psicoterapia. A opção mais precária seria tratar o pânico somente com medicação, visto que o índice de recaídas é maior quando há somente tratamento medicamentoso do que quando há também um tratamento psicológico. Os remédios mal administrados podem acabar mascarando por anos o sofrimento ao invés de ajudar a pessoa a superá-lo.
Para que haja um controle do Pânico, não basta controlar as crises, é necessário integrar as sensações e sentimentos que estavam as disparando e assim superar o estado interno de fragilidade e desamparo. A melhora advém quando a pessoa torna-se capaz de sentir-se identificada com seu corpo, capaz de influenciar seus estados internos, sentindo-se conectada com os outros à sua volta, podendo lidar com os sentimentos internos, se reconectando com os fatores internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar com eles de um modo mais satisfatório. Superar a experiência da Transtorno de Pânico pode ser uma grande oportunidade de crescimento pessoal, de uma retomada vital e contemporânea do processo psicológico de vida de cada um.
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