Não é incomum, nos depararmos com notícias sobre mulheres que foram agredidas por seus companheiros – muitas chegando ao ponto de ficarem desfiguradas. O mais estranho (aos olhos de quem está de fora) é que acabam dando declarações sobre perdão e amor. Há quem fique indignado diante de tais afirmativas e não consiga compreender como essas mulheres, mesmo após tantas agressões físicas e psicológicas, conseguem perdoar o agressor.
A violência doméstica tem um ciclo. A mulher passa pela fase de lua de mel, na qual tudo está bem e ela se sente protegida; depois vem a tensão e a crise, que culminam inicialmente em violência psicológica e logo em seguida a violência física; ela pensa em tomar uma atitude; o companheiro pede perdão, porque se arrepende; e ela acredita, retorna ao relacionamento, pois espera que tudo volte a ficar bem... Vulgarmente as pessoas acham que a mulher gosta de ficar nesta situação, mas não é verdade.
Em muitos casos, o que acontece é a dependência emocional, visto que as mulheres tendem a idealizar o relacionamento e até mesmo o companheiro, sendo difícil para elas dissociar o homem por quem se apaixonaram daquele que lhes agride. O amor patológico é aquele que prejudica a relação, a si mesmo e ao outro – não é saudável. A dependência afetiva se torna presente e o outro se transforma no centro de suas vidas, aqui podemos chamar esse processo de “cegueira emocional".
Existe ainda toda uma educação sexista que colabora com isso, nos lembrando que muitas mulheres crescem acreditando que só serão felizes se conseguirem se casar. Também vemos muitas mães que dizem para as filhas, vítimas de violência, que “é assim mesmo”, “não tem jeito”, “melhor com ele”, mostrando que o comportamento acaba sendo transmitido na família de geração em geração.
Os casos que chegam ao consultório psicológico costumam ser graves, com mulheres que sofrem violência emocional e física e até mesmo correm risco de morte. Este é um problema democrático, porque não afeta apenas uma classe social, faixa etária, religião ou raça, em todos os lugares podemos encontrar uma vítima.
A dependência emocional em relação a um companheiro violento tem tratamento. É um processo. Não acontece do dia para a noite, mas aos poucos é possível fazer com que essa mulher dissocie amor de violência. O próprio homem acha que age por amor, por medo de perder “sua mulher” e o psicoterapeuta trabalha para mostrar que amor, afeto e respeito podem e devem andar juntos. Um não é do outro, não deve haver relação de posse, sempre devemos buscar no outro relacionamentos construtivos e que nos tragam crescimento e felicidade.
As pessoas que tendem a permanecer num relacionamento destrutivo, percebem que algo está errado, sentem-se infelizes, mas se sentem incapazes de colocar um ponto final. Essa incapacidade faz parte do problema, continuar sofrendo e infeliz num relacionamento destrutivo, mostra o quanto é necessário uma ajuda profissional urgente.
A melhor ajuda é a psicoterapia, mas o primeiro passo é assumir que a doença existe, e o segundo passo é buscar auxílio de um psicólogo ou grupos de apoio. É impossível conseguir amar de forma saudável se estamos doentes, é importante manter sempre atividades que goste de fazer e nunca abandonar nada por causa do outro, lembrem-se que o outro deve ser complemento saudável de sua vida e não o centro da mesma. Buscar ajuda o mais rápido possível é o recomendado, amar demais é um vício tão perigoso quanto qualquer outro, e pode ser fatal.
Micheli Krayevski
(47) 9193 6553
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