Minha filha costuma ser uma
criança tranquila, mas tem dias que ela é capaz de me tirar do prumo! E a
partir dessas experiências é que pude experimentar algo que falo diariamente
para os adultos: é preciso aprender a expressar, dar um nome para o que sentimos.
O início desse processo de
maturidade começa na mais tenra infância, quando os pais nomeiam os sentimentos
dos bebês. “Tá chorando porque está com FOME” com essa fala e com o alimento a
mãe cria um significante para o filho que passa a interpretar que aquele
desconforto que está sentindo se chama FOME. Em um belo dia toda criança cai,
se machuca. O cuidador ao ver seu choro nomeia: “Aiii o neném está com DOR” e a
criança passa a interpretar e generalizar que todas as vezes que sentir aquela
sensação em seu corpo pode chamar de dor... e assim vamos criando nosso
repertório de sentimentos: ganhou um presente? Ficou FELIZ; quebraram seu
brinquedo? Zangado; o peixinho morreu? TRISTEZA...Tristeza? Não! O nome desse
sentimento se chama LUTO; assim como quando recebe um não – você não fica
triste, fica FRUSTRADO... e assim começa a confusão! Quando a nomeação de
sentimentos é muito simplista, sem ampliar o repertório da criança (e no adulto
se isso acontecer tardiamente, geralmente em psicoterapia) a tendência é que o
processo de expressão e de maturação dos sentimentos se torne falha.
Crianças não nascem sabendo
expressar o que sentem, somos nós os adultos do seu entorno quem devemos
estimular.
Dia desses meu marido e eu,
saindo do trabalho fomos buscar o Sofia (5 anos) na escola. Dentro do carro nós
conversando e ela reclama: “vocês não param de falar e não me escutam!”.
Assustados com a intervenção dela, pedimos que ela falasse. Falou algumas
coisas sobre o teatro que estavam ensaiando na escola, nós ouvimos atentamente.
Logo retomamos nosso assunto. E ela novamente se queixou que “ninguém me dá
atenção nessa casa”. Nos entreolhamos e notamos que algo estava fora do
“padrão” da Sofia. Ao longo da noite fomos procurando dar espaço para que ela
pudesse expressar o que estava acontecendo. Brincamos, ouvimos sobre o teatro
novamente, jantamos juntos. A coloquei para dormir, li a historia, ao terminar
ela me olhou muito séria e disse: “mãe, hoje eu tive um dia muito difícil” a
estimulei a me contar o que havia acontecido: “uma menina na van ficou cantando
‘com quem será que a Sofia vai casar’. Nada haver né mãe? Criança nem casa. Eu
falei pra ela parar e ela continuou mais ainda” e ainda completou: “pra piorar
minha amiga quis apagar meu desenho e rasgou minha atividade da escola”. Achei
a coisa mais fofa do mundo ela me contando seus problemas, segurei minha
vontade de esmaga-la e a ouvi empaticamente. Toda aquela alteração de
comportamento aconteceu para que ela pudesse encontrar um ambiente seguro para
se expressar e falar do seu dia difícil.
Assim, o nosso papel como pais é
crucial no desenvolvimento da autorregulação das emoções. A autorregulação é a habilidade
que temos de gerenciar nossas emoções de maneira eficaz.
Para auxiliar nossos filhos no
seu desenvolvimento emocional é importante:
1- Dar
nome em tempo real para os sentimentos experimentados pela criança: “Que
sorriso lindo! Você está feliz!”; “Você está frustrado porque não comprei o seu
doce preferido”
2- Seja
modelo de vocabulário. Óbvio que é muito mais fácil gritar ou falar um palavrão
quando estamos com raiva. Mas as crianças aprendem a expressar sentimentos de
forma adequada quando nós também o fazemos. Assim, devemos procurar dizer o que
estamos sentindo. Diga que está preocupado, estressado, orgulhoso, alegre ou
triste. Ao te ver nomear, a criança aprende muito!
3- A
empatia é capaz de mudar o mundo! Quando temos a capacidade de se colocar no
lugar do outro, somos capazes de olhar para a sua dor com mais clareza e
respeitar esse sentimento. “Sei que você está triste. A mamãe vai te abraçar
para que você chore e coloque pra fora essa tristeza”. “Você está com medo. É
normal termos medo das coisas. Papai está aqui pra te proteger”
4- Nunca
podemos minimizar o sentimento dos outros, principalmente de nossos filhos.
Jamais podemos dizer “não foi nada” muito melhor que digamos “vai passar”.
5- Podemos
ensinar nossos filhos a identificar os sentimentos em outras pessoas. Sempre
que ver alguém expressando algum sentimento de forma nítida, podemos nomear.
“Veja como aquele menino se sente vitorioso ao ganhar a corrida”. Depois que
você perceber que ele aprendeu a identificar, vocês podem até brincar, de forma
discreta, de adivinhar o que as pessoas envolta estão sentindo.
6- Existem
alguns livros que estimulam essa identificação de sentimentos. Compre esses
livros e dê de presente. Pode ser um ótimo estimulo para esse processo de
identificação que irá ajuda-lo a amadurecer e criar uma pessoa mais saudável.
Ensinar as crianças a reconhecer
e expressar sentimentos é uma tarefa que exige tempo e paciência. A melhor
forma é incorporar essas dicas no dia a dia, fazendo com que seja um assunto
pertencente a rotina e as relações familiares.
No mundo dos adultos as
dificuldades em nomear sentimentos devem ser trabalhadas nas relações de
confiança, especialmente em psicoterapia. Dar nome ao que sente, é cientificamente
comprovado que alivia sintomas de ansiedade e depressão.
Abraço!
Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga
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