terça-feira, 30 de abril de 2019

Dar nome aos Sentimentos


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Minha filha costuma ser uma criança tranquila, mas tem dias que ela é capaz de me tirar do prumo! E a partir dessas experiências é que pude experimentar algo que falo diariamente para os adultos: é preciso aprender a expressar, dar um nome para o que sentimos.
O início desse processo de maturidade começa na mais tenra infância, quando os pais nomeiam os sentimentos dos bebês. “Tá chorando porque está com FOME” com essa fala e com o alimento a mãe cria um significante para o filho que passa a interpretar que aquele desconforto que está sentindo se chama FOME. Em um belo dia toda criança cai, se machuca. O cuidador ao ver seu choro nomeia: “Aiii o neném está com DOR” e a criança passa a interpretar e generalizar que todas as vezes que sentir aquela sensação em seu corpo pode chamar de dor... e assim vamos criando nosso repertório de sentimentos: ganhou um presente? Ficou FELIZ; quebraram seu brinquedo? Zangado; o peixinho morreu? TRISTEZA...Tristeza? Não! O nome desse sentimento se chama LUTO; assim como quando recebe um não – você não fica triste, fica FRUSTRADO... e assim começa a confusão! Quando a nomeação de sentimentos é muito simplista, sem ampliar o repertório da criança (e no adulto se isso acontecer tardiamente, geralmente em psicoterapia) a tendência é que o processo de expressão e de maturação dos sentimentos se torne falha.
Crianças não nascem sabendo expressar o que sentem, somos nós os adultos do seu entorno quem devemos estimular.
Dia desses meu marido e eu, saindo do trabalho fomos buscar o Sofia (5 anos) na escola. Dentro do carro nós conversando e ela reclama: “vocês não param de falar e não me escutam!”. Assustados com a intervenção dela, pedimos que ela falasse. Falou algumas coisas sobre o teatro que estavam ensaiando na escola, nós ouvimos atentamente. Logo retomamos nosso assunto. E ela novamente se queixou que “ninguém me dá atenção nessa casa”. Nos entreolhamos e notamos que algo estava fora do “padrão” da Sofia. Ao longo da noite fomos procurando dar espaço para que ela pudesse expressar o que estava acontecendo. Brincamos, ouvimos sobre o teatro novamente, jantamos juntos. A coloquei para dormir, li a historia, ao terminar ela me olhou muito séria e disse: “mãe, hoje eu tive um dia muito difícil” a estimulei a me contar o que havia acontecido: “uma menina na van ficou cantando ‘com quem será que a Sofia vai casar’. Nada haver né mãe? Criança nem casa. Eu falei pra ela parar e ela continuou mais ainda” e ainda completou: “pra piorar minha amiga quis apagar meu desenho e rasgou minha atividade da escola”. Achei a coisa mais fofa do mundo ela me contando seus problemas, segurei minha vontade de esmaga-la e a ouvi empaticamente. Toda aquela alteração de comportamento aconteceu para que ela pudesse encontrar um ambiente seguro para se expressar e falar do seu dia difícil.
Assim, o nosso papel como pais é crucial no desenvolvimento da autorregulação das emoções. A autorregulação é a habilidade que temos de gerenciar nossas emoções de maneira eficaz.
Para auxiliar nossos filhos no seu desenvolvimento emocional é importante:
1-      Dar nome em tempo real para os sentimentos experimentados pela criança: “Que sorriso lindo! Você está feliz!”; “Você está frustrado porque não comprei o seu doce preferido”
2-      Seja modelo de vocabulário. Óbvio que é muito mais fácil gritar ou falar um palavrão quando estamos com raiva. Mas as crianças aprendem a expressar sentimentos de forma adequada quando nós também o fazemos. Assim, devemos procurar dizer o que estamos sentindo. Diga que está preocupado, estressado, orgulhoso, alegre ou triste. Ao te ver nomear, a criança aprende muito!
3-      A empatia é capaz de mudar o mundo! Quando temos a capacidade de se colocar no lugar do outro, somos capazes de olhar para a sua dor com mais clareza e respeitar esse sentimento. “Sei que você está triste. A mamãe vai te abraçar para que você chore e coloque pra fora essa tristeza”. “Você está com medo. É normal termos medo das coisas. Papai está aqui pra te proteger”
4-      Nunca podemos minimizar o sentimento dos outros, principalmente de nossos filhos. Jamais podemos dizer “não foi nada” muito melhor que digamos “vai passar”.
5-      Podemos ensinar nossos filhos a identificar os sentimentos em outras pessoas. Sempre que ver alguém expressando algum sentimento de forma nítida, podemos nomear. “Veja como aquele menino se sente vitorioso ao ganhar a corrida”. Depois que você perceber que ele aprendeu a identificar, vocês podem até brincar, de forma discreta, de adivinhar o que as pessoas envolta estão sentindo.
6-      Existem alguns livros que estimulam essa identificação de sentimentos. Compre esses livros e dê de presente. Pode ser um ótimo estimulo para esse processo de identificação que irá ajuda-lo a amadurecer e criar uma pessoa mais saudável.
Ensinar as crianças a reconhecer e expressar sentimentos é uma tarefa que exige tempo e paciência. A melhor forma é incorporar essas dicas no dia a dia, fazendo com que seja um assunto pertencente a rotina e as relações familiares.
No mundo dos adultos as dificuldades em nomear sentimentos devem ser trabalhadas nas relações de confiança, especialmente em psicoterapia. Dar nome ao que sente, é cientificamente comprovado que alivia sintomas de ansiedade e depressão.

Abraço!

Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga

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