O cinema recorre constantemente a personagens
psicopatas para montar tramas densas e enigmáticas. Quem não se lembra do
massacre na escola americana de Columbine, quando dois adolescentes metralharam
colegas e professores. Essa tragédia foi traduzida para a arte do cinema sob o
nome de Elefante. O filme mostra a vida cotidiana dos alunos da escola que se
tornou palco de uma das mais sangrentas páginas dos Estados Unidos. Assistimos
a dois amigos que compram uma metralhadora e resolvem acertar contas com as
pessoas que tinham desavenças. Ainda falando de jovens, o filme Anjo Malvado,
estrelado por Macaulay Culkin, mostra um garoto de 12 anos que começa a
praticar atos de maldade gratuita após a morte de sua mãe. A frieza e o grau
das maldades praticadas pela criança assustam e impressionam. Como não falar
então do clássico filme Psicose, que apresenta a história de uma mulher que se
hospeda em um hotel de beira de estrada e conhece o misterioso dono que, na
verdade, é um psicótico esquizofrênico.
Contudo, o prêmio de maior serial
killer da história do cinema é de: Hannibal Lecter. Ele protagoniza uma série
de filmes: iniciada por Silêncio dos Inocentes, seguido de Hannibal, Dragão Vermelho e o mais recente
Hannibal – A origem do mal. Outro é Jigsaw, um homem por detrás do
boneco bizarro do sangrento filme Jogos
Mortais, onde pessoas são obrigadas a
realizar tarefas que envolvem raciocínio, muita dor e escolhas difíceis para
sobreviverem. Um filme de tanto sucesso que já está em sua sexta continuação,
sempre trazendo pontos da história do serial killer e mostrando suas motivações
para os assassinatos em série. Ainda, a incrível interpretação de Kevin Costner em Instinto Secreto. Um empresário bem
sucedido que em seu tempo livre mata desconhecidos, incentivado por seu alter ego.
Quando nos deparamos
com estes assassinos, fabricantes de mortes aparentemente sem sentido, de
alguma maneira escancaram nossa vulnerabilidade no mundo. Por isso, é natural
que busquemos explicações científicas, filosóficas ou psíquicas, na ânsia de,
ao menos, ordenar e padronizar os motivos de tais atos.
O termo “serial killer” foi criado
pelo criminalista norte-americano Robert Ressler, ele dividiu esses criminosos
em três categorias: a primeira seria daqueles que sofrem de psicoses e
apresentam sintomas de esquizofrenia, como escutar vozes e sofrer de
alucinações, que a partir daí partiriam para a execução dos crimes. Em outro
grupo aqueles que sentem um prazer sádico em planejar de maneira metódica o que
antecede e o que sucede à morte de suas vítimas. Na terceira categoria estariam
os criminosos que apresentam de maneira simultânea as duas características
descritas nos grupos anteriores. O psiquiatra James de Burguer, acrescentou
mais uma categoria à lista de Ressler: os que acreditam que estão livrando a
sociedade de algum grupo que representa um desvio de conduta moral, como
prostitutas ou homossexuais, ou que personifique alguma ameaça à comunidade. Um
bom exemplo é o seriado Dexter, ele
mata os criminosos procurados pela polícia.
De acordo com o psiquiatra Kurt Schneider,
que cunhou o termo “psicopata” nos anos 1940, estes indivíduos teriam como
traço mais marcante o uso praticamente exclusivo de suas faculdades racionais
em detrimento da afetividade, isto é, um sujeito que não possui a mínima
empatia por outras pessoas, as quais serão sempre usadas para que ele obtenha
poder, status, diversão, prazer, etc. O psicopata tem de anormal um distúrbio
na vontade, ele tem um ‘querer’ patológico. O sentimento é todo voltado para si
mesmo, por isso não há culpa. Se você perguntar para o sujeito que tenha
cometido algum crime se está arrependido do que fez, ele vai dizer que sim,
pois está preso. No entanto, não demonstrará nenhuma piedade para com a vítima.
É
importante ressaltar que, apesar da palavra “psicopata” ser comumente
relacionada com os assassinos seriais, nem todos podem ser classificados como
tal, porque a grande maioria dos psicopatas não apresenta impulsos violentos.
Ainda que ocorram em todo o mundo, o país de
maior ocorrência destes eventos aterrorizantes são os Estados Unidos. No
Brasil, os mais famosos são o Maníaco do Parque, Bandido da Luz Vermelha e
Pedrinho Matador.
Mas qual fator seria
o predominante para desencadear a formação de uma personalidade doentia, capaz
de cometer crimes hediondos?
Todos os processos
são endógenos. As causas biológicas podem ser inúmeras. Já foi pesquisado que
algum comprometimento do lobo frontal, parental, meningite, anóxia no parto,
entre outros diversos, podem predispor o sujeito a cometer crimes.
Fatores genéticos
também podem ser levados em conta nesta equação. Pode ser que algumas pessoas nasçam
com a propensão de se tornarem criminosas. Porém, é obvio que não é porque a
pessoa possui uma disfunção endógena que vai trilhar este caminho, assim como apenas
uma vivência dolorosa no passado não tem força para criar indivíduos capazes de
praticar esses crimes monstruosos.
Convivemos
com a hipótese mais aceita atualmente entre especialistas: o que faz de uma
pessoa um verdadeiro criminoso, capaz de atos hediondos, são inúmeros fatores
que ocorrem simultaneamente. Estes processos devem ser analisados a partir de
uma ótica biopsicossocial. Se tem uma predisposição biológica, talvez o fato de
contar com aspectos psíquicos, afetivos, sociais e culturais positivos, não
seja suficiente para conter aquela pulsão. Por outro lado, às vezes, a predisposição
biológica até é pequena e, no entanto, os processos afetivos e sociais são tão
negativos que o sujeito parte para o crime. Há ainda, o fato facilmente
observável de que mesmo que criados em uma comunidade violenta e sem o afeto e
os cuidados de uma família, a maioria dos indivíduos sem predisposição
biológica não se envolvem com crimes.
Apesar das inúmeras discussões
suscitadas desde o final do seculo XIX, muitos psiquiatras veem com um olhar
pessimista a tentativa de inclusão social de criminosos psicopatas. Não há
tratamento eficaz para tal patologia. Existem inúmeros casos graves de erro
judiciário, nos quais o psicopata é condenado como preso comum. A tendência,
quando sair da reclusão, é a repetição da conduta.
Micheli Krayevski
chelykrayevski@gmail.com
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