Com o passar desses mais de 10
anos em que trabalho com dependência química, algo que nunca me passou
despercebido foi a relação que o meu paciente tinha com o seu pai. Afinal, me
parece, que a dependência química é uma história de amor com o pai. Essa
relação tão marcada por amor e por ódio. Sim, onde há muito ódio, há muito amor
também!
Na prática clínica é perceptível a referencia de idolatria que o meu paciente tem para com a mãe - em torno dela é construído um santuário, uma imagem idealizada dos acertos e por uma suposta razão. E quanto ao pai o que aparece é um desprezo fixado em mágoas e fortes ressentimentos.
Nem tão ao céu, nem tão ao inferno. É preciso equilibrar essas relações. Já que para alcançar a maturidade emocional de um adulto, o necessário é reconhecer a figura importante de ambos. E também a consciência de que cada um fez aquilo que lhe era possível ser feito. O treino deve ser de reconhecimento e perdão.
Os estudos da teoria Winnicottiana é baseada com o bebê no colo de sua mãe. Esse bebê com uma tendência para o amadurecimento, mas ainda assim, mesmo essa tendência sendo inata, há a necessidade em se contar com um ambiente que propicie esse processo.
Winnicott também considerou de forma importante o pai, pontuando e descrevendo seu papel em todas as etapa do processo de amadurecimento pessoal.
Obs: Mantêm-se a premissa de que a mãe é o primeiro ambiente do bebê e esta precisa oferecer um colo suficientemente bom, mas entende-se que a qualidade deste colo dependerá fundamentalmente do "colo" oferecido para a ela. Este, que se dá de forma muito mais adequada, quando oferecido pelo pai da criança. Então, o pai é o responsável por ser o holding da mãe. Possibilitando a ela uma total dedicação para com o lactante, ela podendo ser uma mãe devotada.
Nos primeiros meses de vida (chamado por Winnicott de fase de dependência absoluta), o pai atua de forma a substituir a mãe diante de uma necessidade, oferece ao bebê os mesmo cuidados que a mãe lhe dispensa.
Em “Da Pediatria à Psicanálise”, Winnicott escreveu que é fundamental que o pai seja verdadeiramente importante para a mãe, num sentido dramático e existencial, permitindo o estabelecimento de uma relação mãe-filho saudável. Deste modo, o bebê poderá integrar-se com auxílio da presença paterna. O pai não “duplica” o cuidado materno, mas aparece como elemento inscrito num processo de diferenciação da alteridade.
Isso numa família saudável...
Na prática clínica é perceptível a referencia de idolatria que o meu paciente tem para com a mãe - em torno dela é construído um santuário, uma imagem idealizada dos acertos e por uma suposta razão. E quanto ao pai o que aparece é um desprezo fixado em mágoas e fortes ressentimentos.
Nem tão ao céu, nem tão ao inferno. É preciso equilibrar essas relações. Já que para alcançar a maturidade emocional de um adulto, o necessário é reconhecer a figura importante de ambos. E também a consciência de que cada um fez aquilo que lhe era possível ser feito. O treino deve ser de reconhecimento e perdão.
Os estudos da teoria Winnicottiana é baseada com o bebê no colo de sua mãe. Esse bebê com uma tendência para o amadurecimento, mas ainda assim, mesmo essa tendência sendo inata, há a necessidade em se contar com um ambiente que propicie esse processo.
Winnicott também considerou de forma importante o pai, pontuando e descrevendo seu papel em todas as etapa do processo de amadurecimento pessoal.
Obs: Mantêm-se a premissa de que a mãe é o primeiro ambiente do bebê e esta precisa oferecer um colo suficientemente bom, mas entende-se que a qualidade deste colo dependerá fundamentalmente do "colo" oferecido para a ela. Este, que se dá de forma muito mais adequada, quando oferecido pelo pai da criança. Então, o pai é o responsável por ser o holding da mãe. Possibilitando a ela uma total dedicação para com o lactante, ela podendo ser uma mãe devotada.
Nos primeiros meses de vida (chamado por Winnicott de fase de dependência absoluta), o pai atua de forma a substituir a mãe diante de uma necessidade, oferece ao bebê os mesmo cuidados que a mãe lhe dispensa.
Em “Da Pediatria à Psicanálise”, Winnicott escreveu que é fundamental que o pai seja verdadeiramente importante para a mãe, num sentido dramático e existencial, permitindo o estabelecimento de uma relação mãe-filho saudável. Deste modo, o bebê poderá integrar-se com auxílio da presença paterna. O pai não “duplica” o cuidado materno, mas aparece como elemento inscrito num processo de diferenciação da alteridade.
Isso numa família saudável...
Agora, pense em uma mãe de primeira viagem, com o seu bebê recém nascido, com todas as demandas dela (alterações físicas, hormonais, emocionais...), mais todas as demandas do bebê, e mais ainda preocupada que o pai da criança não chegou em casa depois do trabalho, imaginando que ele deve estar no bar com os amigos, gastando o dinheiro reservado para as contas do mês. Ou ainda a preocupação de que quando ele chegar estará alcoolizado.
Não sei se é de seu conhecimento, se você já viu um bêbedo...
Normalmente um homem sob efeito do álcool fica expansivo, dono da verdade, cheio de razão, chato e por muitas vezes agressivo.
Esse bebê, em simbiose com a mãe, sentirá toda essa ansiedade, bem como irá vivenciar junto dela a expectativa e o caos causado com a chegada desse pai.
Percebe que a função do pai em substituir a mãe já esta fadada ao fracasso? Pois a mãe, com razão, não confia que esse homem seja capaz de ser suficientemente bom nos cuidados para com o seu bebê. Aqui há uma fixação da simbiose. Pois o corte que seria necessário que o pai fizesse, já não vai acontecer. Por falha de ambos! Incapacidade dele e medo dela.
O pai não transmitirá a segurança necessária, não fará o holding para a mãe. A mãe tentará substituí-lo.
Esse bebê não terá um ambiente bom para desenvolver sua segurança interna. Ouso dizer, que aqui está um dos maiores prejuízos que os filhos do alcoolismo sofrem: Passam a ser pessoas sem o mínimo de segurança possível para seu amadurecimento emocional. São bebês e posteriormente adultos inseguros. Tem medo da vida! Não consegue sentir segurança no ambiente, no mundo lá fora e muito menos no seu mundo interno. Aqui, possivelmente, está a base da ansiedade, da depressão e até mesmo de um possível desenvolvimento da dependência química.
Pode-se dizer, que as marcas emocionais permanecerão por toda a vida. Esse bebê se tornará um adulto que não conseguirá confiar em ninguém, muito menos em si mesmo. Trará consigo a incerteza, que virá a provocar persistente angústia; sentimento de impotência diante das situações cotidianas; baixa autoestima; sentimento de culpa (o pai alcoolista muitas vezes culpa os filhos pelo caos familiar, e eles acabam introjetando esse sentimento); herdará também dificuldade em expressar afetos; falta de perspectiva de futuro...
Quando se trata de um segundo momento (que Winnicott chamou de dependência relativa), num ambiente familiar saudável, o principal papel desempenhado pelo pai é a de chamar a mãe para si. Ela estava distante dela mesma, física e emocionalmente, distante do marido, da casa e de todas as outras relações. O pai é quem “lembra” a mãe que ela também é uma mulher, de modo que ela tenha mais um ponto de apoio para recuperar aspectos de sua personalidade e de retomar, aos poucos, a amplitude do mundo que havia sido estreitado pela preocupação materna primária.
* Importante ressaltar que a entrada do pai na vida da criança não é violenta ou traumática, e nada tem a ver com qualquer situação em que esteja implicada uma separação brusca da mãe. As mudanças vão ocorrendo dentro da relação mãe-bebê, na natureza desta relação, e não a partir da dissolução dela. O pai aqui não é o interditor, ao contrário, ele é o sustentador, para que o amadurecimento natural possa ir ocorrendo.
No ambiente familiar alcoolista, a relação simbiótica permanece, pois o pai não entra. Essa adoração para com a mãe impede que a criança venha a se desenvolver de forma saudável. Grande parte dos dependentes químicos são uns “bebezões”. Homem adulto por fora, mas emocionalmente imaturo. Incapaz de cuidar de sua própria vida sozinho.
Na dependência química, a ‘química’ é o menor dos detalhes. As relações de ‘dependência’ é o maior agravante deste tipo de personalidade. É dependente emocionalmente, financeiramente e tem muita dificuldade para resolver sozinho os problemas da vida. É a mãe quem o leva procurar emprego, quem paga suas contas e compra suas roupas. É a mãe que tenta incansavelmente resolver seus problemas. Ela quem escolhe as parceiras, mesmo achando que mulher nenhuma é boa o suficiente para o seu “bebê”. Homem que depende da mãe e que posteriormente buscará uma mulher para substituir essa função materna.
Também na fase da dependência relativa é responsabilidade do pai posicionar-se de modo a proteger a mãe dos ataques da criança, já que nesta etapa a criança se depara com o processo de desilusão. É nesta fase que o bebê vê o primeiro sinal do pai, ainda através da mãe. O pai é o primeiro modelo de integração para o bebê, assim é usado por ele como um padrão para sua própria integração.
No livro “O ambiente e os processos de maturação” Winnicott diz: “...o pai pode ser o primeiro vislumbre que a criança tem da integração e da pessoalidade total. O bebê utiliza o pai como uma espécie de diagrama para a sua própria integração, num momento em que esta integração ainda não foi conquistada por ele.”
Quando se trata de um pai saudável, é lindo falar de integração.
Quando se trata de um pai alcoolista, estamos falando de uma repetição de comportamentos negativos.
Os filhos de alcoolistas tem 6 vezes mais chances de desenvolver uma dependência (dependência química, de jogos, sexo, compulsão alimentar). 6x mais chance do que filhos de pai não alcoolista! Além de apresentarem mais frequentemente sintomas psicopatológicos desde a infância. Tem mais disfunções cognitivos, problemas de aprendizagem, precocemente sintomas de ansiedade, depressão...
Como o quadro de alcoolismo é crônico e as manifestações de violência física e psicológica costumam ser persistentes e ir se acentuando. Com a repetição, fica quase impossível curar as feridas naturalmente. E elas vão formando a personalidade de uma pessoa instável emocionalmente; alimenta comportamentos impulsivos e compulsivos; é uma pessoa que tem dificuldade de terminar os projetos que inicia – abandona escola, cursos, trabalhos...; é uma pessoa que encara as coisas com um excesso de seriedade, tendo problemas para reservar momentos para a diversão e o prazer – e o álcool e as drogas chegam aqui para tentar alcançar esse prazer faltante, vem como entretenimento e anestesia.
Considero importante também citar as possíveis consequências destas falhas no que diz respeito à sociedade. Tendo em vista, que o papel do pai é de referência hierárquica, de colocar limites, preparar o filho para as relações interpessoais, e consequentemente para a convivência em sociedade. Aparece aqui o deprivado, das condutas delinquentes e da tendência antissocial.
Em processo de psicoterapia, é comum para o filho de alcoolista se deparar com a repetição dos comportamentos que tanto ele abomina no pai. Ele vai se perceber negligenciando ou até mesmo abandonando os filhos, não prestando cuidados para eles e para a esposa. Perceberá praticando violência física e psíquica, igualzinho como recebeu. Irá se perceber sendo um péssimo modelo de homem.
Para que os filhos do alcoolismo possam superar essa marca emocional e curar as feridas deixadas pela relação com o pai, precisará entender ‘o que’ o trouxe até o presente momento. Essa percepção, somada a outros insigths, pode favorecer a motivação para a mudança. Quebrar esse ciclo de repetição, que já era do avô, do pai... e ele optar por não querer reproduzir no seu filho. Isso passa a ser parte do desejo de alguém que procura mudança de vida.
Não fique sozinho! Peça ajuda!
* As palavras que destaquei em itálico são comuns na linguagem da psicanálise winnicottiana. Se não conseguir compreender, me disponho a te ajudar. Pode me chamar
Abraço,
Micheli Krayevski Eckel
Psicóloga
Psicanalista em construção
(47) 99193-6553