terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Sobre ter (e ser) Mãe

A antiga bênção de Nahualt tem um trecho que diz assim: “Eu liberto meus pais do sentimento de que já falharam comigo”. Penso nas inúmeras vezes que julguei as “faltas” de minha mãe, mesmo quando o erro nem era dela. Talvez pela minha necessidade de achar um bode expiatório para os meus problemas, traumas, angustias e aflições, o caminho mais simples e seguro sempre foi acusar a pessoa que mais fácil me perdoaria: minha mãe.

Após um processo caminhado, hoje, definitivamente, quero libertar minha mãe do sentimento de qualquer culpa. Quero que ela saiba que mesmo que eu discorde de algumas atitudes tomadas no passado, sei que ela fez o que julgou que seria o melhor naquele momento. Tenho a plena convicção de que ela deu o seu melhor. Desejo que ela se sinta leve, sem arrependimentos ou culpas, e que perceba o quanto serviu de base e exemplo para nossa família. Quero que minha mãe saiba que reconheço o seu esforço. Que saiba o quanto sou grata e o quanto aceito os caminhos que trilhou com o intuito de que fôssemos felizes.

Conhecendo minha mãe, sendo mãe e ouvindo muitas mães em minha prática clínica, entendi que mãe falha tentando fazer o melhor e sempre por amor. Mãe falha pela ausência, tentando passar um exemplo de independência, de trabalho, para dar uma condição financeira melhor da que teve. Mãe falha pela presença, tentando ser apoio, companhia e até monitoramento estressante. Falha privando e frustrando; falha mimando e cuidando. Falha em defesa de seus filhos; falha tentando ser sensata e imparcial. Mãe falha sofrendo as nossas dores; falha ignorando os sinais, que na maioria das vezes todos em volta já estão enxergando. Falha suportando tudo, colocando tudo pra debaixo do tapete; falha também rodando a baiana e colocando os pingos nos is. Porém, o que mãe não faz, é desistir. Mesmo falhando, ela está ali, tentando, tentando, tentando... E mesmo errando, continua tentando acertar.

Crescemos, estudamos, adquirimos novos hábitos e costumes, e percebemos que nem tudo foi perfeito na casa onde nascemos. Ficamos críticos, passamos a discordar da educação que tivemos e tentamos agir de outro modo com nossos filhos. Porém, também passamos a repetir aquilo que foi bom. Sem querer, nos flagramos repetindo falas e trejeitos de nossos pais, repetindo brincadeiras, receitas, tentando eternizar tradições familiares.

Hoje, meu desejo é perpetuar o amor de minha mãe por suas filhas e a sua perseverança de tentar. Desejo que, ao entrar em casa, eu esqueça o peso do meu dia e possa ser leve e presente na companhia de minha filha. Que eu possa inspirá-la a fazer o bem, ser forte e paciente, mas acima de tudo, que ela entenda meu desejo de que seja mais amorosa consigo mesma. Que eu consiga acertar mais que errar, mas que ela perdoe minhas faltas, entendendo que sou aprendiz, e sempre desejo o seu bem. Que minha força de minha mãe se faça presente em alguns de meus pensamentos e gestos, me ajudando a repetir e aperfeiçoar a expressão do amor. E que, ao entregar minha filha para o mundo, eu possa confiar no tempo que passamos juntas e acreditar, com satisfação, que ela estará segura e em paz. E que ao ver minha filha voltar, espero enxergar em seus olhos o brilho de quem encontrou seu caminho, ou pelo menos está tentando.

Bem na verdade o que as mães querem é que seus filhos amadureçam, enfrentem a vida com dignidade e principalmente que seus filhos sejam felizes!


Micheli Krayevski Eckel

 

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